A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) teve participação expressiva de indígenas brasileiros, com importante protagonismo feminino. A Conferência aconteceu entre 1º e 12 de novembro deste ano, em Glasgow, na Escócia, e reuniu 190 líderes mundiais e dezenas de milhares de representantes governamentais, empresas e cidadãos.

 

Povos Indígenas marcaram presença na COP26 e denunciaram genocídio

A COP26 recebeu a maior delegação de lideranças indígenas brasileiras da história do evento. Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), os mais de 40 representantes dos povos originários começaram a desembarcar em Glasgow, na Escócia, e ocuparam o local da conferência até o último dia de encontro, em 12 de novembro. 

A delegação tinha como objetivo denunciar o genocídio indígena aos líderes mundiais, além do que chamaram de “ecocídio” o agravamento das situações por conta da pandemia da COVID-19. As lideranças foram taxativas: “Não há solução para crise climática sem nós”. 

 

A Terra está falando que não temos mais tempo

As mulheres tiveram um papel de destaque nessa COP26. Reunidas na maior delegação indígena já vista numa conferência do clima, as lideranças movimentaram a discussão e exigiram respeito aos direitos indígenas. No discurso de abertura, a fala de Txai Suruí, estudante indígena de 24 anos, não agradou ao governo brasileiro. Durante seu discurso, expôs a preocupação dos povos indígenas quanto às mudanças climáticas, e suas consequências para todos, reforçando que “Não há como falar de mudança climática sem falar de pessoas”. Ela ainda defendeu a preservação das florestas e disse que “A Terra está falando e ela nos diz que não temos mais tempo”.

O impacto da mensagem reverberou dentro e fora da COP26, tendo a estudante sofrido perseguições por parte de apoiadores do governo brasileiro, recebendo ofensas racistas e ameaças na Internet. Assim que desceu da tribuna para dar uma entrevista, um homem, que usava crachá da delegação oficial do governo, tentou interrompê-la e disse, num tom nada amigável, que ela não deveria falar mal do Brasil. “Era intimidação. Foi muito desconfortável. Eles não querem trazer a realidade do que está acontecendo, eles querem fingir que não existe”, comentou Txai.

“Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.” (Txai Suruí, na abertura da COP 26)

(Txai Suruí, na abertura da COP 26)

“Eu quis falar sobre a importância de nós estarmos no centro da discussão. Somos nós que estamos fazendo o trabalho de luta, de preservação da natureza, da floresta. E também estamos sentindo as consequências das mudanças climáticas” (Txai Suruí)

O que é Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas?

A COP é uma reunião internacional para discutir, a partir de evidências científicas, relacionando as emissões de gases de efeito estufa provenientes das atividades humanas a mudanças climáticas em âmbito global, que começaram a despertar a preocupação pública na década de 1970. Essas alterações climáticas motivaram uma sequência de conferências internacionais na qual se destacam a Conferência de Estocolmo, em 1972, na Suécia, que então foi o marco inicial e que abriu caminho para as conferências posteriores sobre o meio ambiente. 

Em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, conhecida como Rio92, que reuniu mais de 108 chefes de estado, 17 agências especializadas da ONU, 35 organizações intergovernamentais e um número bem expressivo de ONGs. Este grande evento se destaca pela criação dos mais importantes acordos ambientais globais da história da humanidade (PESSINI, 2016). 

Seguindo a linha de segmentos pela luta a favor do meio ambiente, foi criada a primeira Conferência das Partes (COP), que é o órgão supremo da convenção, que se reuniu pela primeira vez em Berlim no ano de 1995. 

Segundo a Apib, os povos indígenas brasileiros realizaram mais de 90 agendas com parceiros, representantes de Estado, meios de comunicação internacionais, que repercutiram em mais de 800 matérias, publicadas em mais de 30 países. Isso mostra que o mundo quer ouvir o que os Povos Indígenas do Brasil têm a dizer!

 

Outros indígenas também se destacaram nos eventos relacionados à COP26

Erick Terena, de 28 anos, juntou-se a outros ativistas estudantis que foram às ruas para protestar contra as crises climáticas. Erick participou dos debates para a produção do documento que foi entregue às autoridades participantes da pré-COP26. Durante os debates, ele disse:

“Nossos territórios estão ameaçados e existem projetos de lei com os quais o governo quer acabar com as áreas de proteção no país. Lanço, então, um desafio para todos os jovens: vamos ajudar os povos indígenas a proteger as florestas e a Amazônia”.

Erik é DJ, jornalista e um dos fundadores da Mídia Índia, canal de comunicação voltado para pautas indígenas. Em 2019, teve o primeiro contato com ONU, após um convite para fazer parte do anuário da organização. 

Em abril deste ano, ele fez a inscrição para a pré-COP26, e teve seu projeto aprovado para participar do evento. 

“Meu projeto era levar a ferramenta da comunicação digital para processos de reflorestamento. A comunicação como ferramenta de conscientização e educação para a população global” (Erick Terena)

E qual a relação da Conferência do Clima com a saúde?

As mudanças climáticas são uma grande ameaça à saúde humana, especialmente em lugares onde as pessoas sofrem sem o acesso dos cuidados básicos de saúde. A emergência climática agrava ainda mais as vulnerabilidades existentes nas diferentes regiões do planeta. No caso dos povos indígenas, são afetados diretamente com as produções de alimentos, doenças infecciosas, entre outras epidemias constantes. As mudanças nos padrões de chuva e estiagem mais longas atingem diretamente os povos indígenas e toda a agricultura de uma forma geral. 

As mudanças climáticas afetam as formas de se viver, ampliando os custos para as produções dos alimentos e aumentando as desigualdades sociais. Se o planeta estiver doente, todos nós estaremos doentes também, principalmente os que possuem menos poder e recursos financeiros.

Portanto, é de extrema importância a criação, a implantação e a vigilância de políticas em prol do meio ambiente sustentável, além da importância de garantir a manutenção do bem-estar da população mundial, acompanhando e monitorando se as metas traçadas estão sendo cumpridas.

 

Como estudantes do PET, o que temos a dizer sobre essa questão?

Como estudantes do Programa de Educação Tutoria (PET) Indígena – Ações em Saúde, um grupo formado por estudantes universitário de diversas etnias, filhos dessa terra, não podemos deixar de evidenciar a importância de combatermos as mudanças climáticas e as repercussões para a saúde de todos.

Diante do sofrimento que sentimos, lutamos pelo nosso planeta Terra e pela vida e existência humana. Essa Terra é nossa origem, somos originários, milenares, marcados pela luta da nossa identidade.

Tudo que a natureza tem nos ensinado tem seu valor inestimável e incomparável, é a nossa voz, é a nossa coragem, defendê-la é a nossa vida, em defesa da humanidade e do universo. Não ficaremos silenciados!

 

Autoria:

Pedro Manoel da S. Santos 

Vandicley Pereira Bezerra

Guanilce Falcão Soares

Denis Delgado

 

Revisão:

Willian Fernandes Luna

 

 

Confira também:

 – Joênia Wapichana recebe o prêmio Mulheres na Política em 2021

–  Acampamento LUTA PELA VIDA: a experiência de integrantes do PET Indígena – Ações em Saúde UFSCar em Brasília

 

Referências consultadas

Pessini, L., & Sganzerla, A. (2016). Evolução histórica e política das principais conferências mundiais da ONU sobre o clima e meio ambiente. Revista Iberoamericana De Bioética, (1), 1-14. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2021/10/1768682

Povos e Terras Indígenas são a Reserva para a Vida no Planeta. Proposta da Apib para enfrentar a crise climática. Disponível em: https://apiboficial.org/cop26/ 

Txai Suruí: “Não há como falar de mudança climática sem falar de pessoas”. Disponível em: https://exame.com/negocios/txai-surui-entrevista/ 

Quem é Txai Suruí, jovem que discursou na COP26 e foi criticada por Bolsonaro. BBC News Brasil. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=56YUAX8y1yM 

Autor

  • Nilsy Santos

    Indigena do Povo Tariana, da Comunidade de Marabitana - AM. Academica do curso de Direito, na Universidade Federal do Pampa. Atua em trabalhos voltados a visibilidade e extensões do Protagonismo Indígena e realiza pesquisas nesse campo.

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