Segundo Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar;
pois tem gente que tem esperança do verbo esperar”.
A Pandemia da COVID-19 abalou e vem abalando inúmeras estruturas da nossa sociedade. E ao passo que destrói vidas, em todos os sentidos, mostra-nos que o trabalho coletivo e o esforço voluntário são a trama que entrelaça os nós de um projeto de solidariedade. O projeto UFSCar Sorocaba em Ação é o exemplo de “esperançar”.
O projeto UFSCar Sorocaba em Ação reúne docentes, técnicos e discentes voluntários a fim de fabricar e distribuir álcool em gel 70% para unidades de saúde, profissionais da linha de frente de combate à COVID-19 e para a população em situação de vulnerabilidade social. Essa ação tem como objetivo amenizar os impactos da pandemia na região de Sorocaba e na permanência estudantil.
Mas, afinal, qual é a importância da produção, distribuição e uso de álcool em gel que tanto se discute nos últimos meses? Para responder a esse questionamento, primeiro devemos entender de que forma esse produto pode nos ajudar a reforçar o cuidado no cotidiano.
Sabemos que o SARS-CoV-2 (coronavírus) trouxe uma nova realidade ao mundo. Além das máscaras utilizadas diariamente pela população como forma de prevenção, há também o álcool em gel que deve ser usado nas mãos (além de punhos e objetos) quando a utilização de água e do sabão não for possível. Assim como o álcool em gel, a água e o sabão, juntos, também são métodos efetivos e capazes de quebrar a cápsula de gordura protetora do vírus, destruindo-o. Em relação ao gel, o ideal é que a concentração de álcool etílico (etanol) nesses produtos seja de 70%, pois, de acordo com o Conselho Federal de Química, essa é a quantidade necessária para combater micro-organismos patogênicos.
Produzir e distribuir o álcool em gel tem sido essencial para a manutenção da saúde pública humana. Diante disso, o projeto UFSCar em Ação tornou esse produto acessível e reforçou como a pesquisa dentro das universidades públicas é fundamental, visto que a ciência colocada em prática dentro de um laboratório universitário não fica apenas restrita à academia, mas também auxilia na prevenção de grande parte da população.
Dentro de tal contexto, a Universidade pública se coloca como aliada da sociedade. Ou, parafraseando um grande professor meu, ela é:
“Como um farol que ilumina a humanidade”
Recentemente, o projeto fez um grande volume de doações para diversas instituições da região, tais como: o Hospital Regional de Sorocaba, a Casa Neon Cunha (que acolhe pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade), a Pastoral do Povo da Rua (uma entidade da grande São Paulo que fornece alimento, água, roupas e oficinas para pessoas em situação de rua), o Lar de Acolhimento Assobem, em Pilar do Sul, a Casa Transitória André Luiz, a Associação Santa Rita de Cássia, a Casa do Menor, a Casa Áurea dos Velhinhos, em Salto de Pirapora, e muitas outras instituições que ainda estão por vir.
Para ilustrar um pouco do trabalho desenvolvido, entramos em contato com alguns alunos participantes do projeto, a fim de que contassem suas experiências dentro do UFSCar em Ação:
Elísha Silva de Jesus, graduada em Ciências Biológicas pela UFSCar. Educadora popular e pesquisadora nas áreas de gênero, trans e educação para a diversidade sexual:
“O governo optou por deixar as pessoas, os hospitais e as instituições sociais por si mesmas. Precarizou muito o acesso aos bens de higiene em um momento onde lavar as mãos e se proteger com álcool é o mínimo que podemos fazer para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. A produção de álcool em gel é relativamente simples. Se de forma voluntária conseguimos atender instituições públicas e sociais na forma preventiva, doando álcool em gel, com certeza teríamos menos mortes e teríamos controlado a pandemia se o apoio do Estado existisse. O governo escolheu deixar o povo morrer, e nós, do projeto, salvo devidas proporções, temos feito o que está ao nosso alcance para minimizar os impactos na microssociedade aqui da região.”
Lorena Alves, discente do curso de Licenciatura em Química no campus Sorocaba:
“O UFSCar Sorocaba em Ação é um projeto de extensão orientado pela Dra. Monica Jones, do Departamento de Biologia aqui da UFSCAR Sorocaba. Teve início aproximadamente em março/abril e não tem previsão para acabar. Nós trabalhamos voluntariamente todos os dias na produção do álcool em gel, que é o que demanda mais esforço. O trabalho não é tão simples, pois temos que correr atrás de doações, divulgação, organização, etiquetagem e outras funções que vão além da produção do álcool em si. Mas, mesmo com todo esse trabalho, é muito gratificante participar e saber que mesmo em um período onde nós podemos ter aula ou trabalhar, estamos fazendo algo que de fato ajude a comunidade neste momento tão difícil para todos. Essa é uma das principais motivações: ajudar o próximo como podemos e mostrar que a universidade pública produz, e que a sua produção beneficia a todos, dentro e fora do meio acadêmico. Fico muito feliz por contribuir, mesmo que seja um pouco, para combater o vírus que estamos enfrentando!”
Rafael Pereira Lobo, aluno de Licenciatura em Ciências Biológicas no campus Sorocaba:
“Conheci o projeto UFSCar em Ação a partir do convite de um amigo e para mim foi bem legal porque estou em quarentena isolado na minha kitnet desde março. Desde a suspensão das aulas, permaneci aqui. Chega uma hora que é desesperador, pois você quer sair e ver pessoas, mas só fica em casa e sai apenas para ir ao mercado, farmácia e afins. Quando surgiu a oportunidade de entrar no projeto, a minha quarentena mudou totalmente porque me deu um objetivo além de ficar só em casa tendo EAD, sem saber quando as coisas voltarão ao normal. Trabalhar com o álcool em gel, além de recompensador — pois você sabe que está ajudando as pessoas e faz aquele trabalho voluntário em prol dos que estão precisando —, muda a sua rotina, já que você trabalha, reencontra seu campus, conhece outros participantes do projeto… Essa convivência me ajuda muito a aguentar o momento de quarentena longe dos meus amigos e família. Então, a importância do projeto é muito grande! Percebo isso por meio das entregas para hospitais e ONGs que entram em contato conosco. Tive a oportunidade de fazer parte de uma entrega para uma ONG de São Paulo, onde o padre Júlio Lancelotti ajuda moradores de rua com comida, cobertores e doações. Nós doamos muitas caixas de álcool em gel e foi muito recompensador, pois é gratificante ver que o produto está indo para pessoas que não teriam acesso a ele e à proteção contra o vírus. Então, por esse lado é muito legal, e, pelo lado mais pessoal, por eu estar longe da minha família e amigos, é legal poder me encontrar com pessoas. A maioria do pessoal eu não conhecia…Muitos deles, que também estão em quarentena, são de cursos diferentes. Por meio do projeto eu fiz novas amizades e isso me dá ânimo para continuar. Nós nos revezamos nas atividades e algumas pessoas têm funções mais específicas, como cuidar da divulgação nas redes sociais, por exemplo. Eu ajudo na produção. Por meio de uma escala semanal que considera o tempo livre de cada um, a gente vai para o laboratório produzir o álcool em gel, encaixotar, contar os litros para doação, etiquetar com a data de fabricação e outros dados de acordo com a Anvisa, ajudando também quando as entregas são muito grandes, pois é necessário documentar”.
As doações feitas pelo projeto só foram possíveis porque outras pessoas também contribuíram doando insumos como álcool, espessante, frascos e EPIs.
No momento, a nossa maior demanda é para os seguintes materiais:
- frascos plásticos de 30 mL a 5 L;
- caixas de papelão (para o acondicionamento dos frascos durante as entregas);
- hipoclorito de sódio (para a esterilização dos frascos);
- agente eucalinizante trietolamina (que ajusta o pH do álcool em gel).
O projeto não apenas demonstra o papel da Universidade, mas também nos coloca como retaguarda na linha de frente, em uma ação de promoção da saúde. No entanto, com a crescente demanda, os insumos acabam sendo insuficientes e o projeto busca por doações e parceiros que queiram contribuir com a causa e nos ajudar a salvar vidas.
Se você também quer e pode contribuir, conheça a nossa vaquinha virtual: Vakinha
Para mais informações, entre em contato pelo e-mail: monica@ufscar.br ou pela página do Instagram.
O projeto é coordenado pela docente Mônica Jones, do Departamento de Biologia.
Nós, do projeto UFSCar Sorocaba em Ação, agradecemos!
Crédito das imagens: Equipe UFSCar Sorocaba em Ação
Imagens de algumas das ações do projeto:
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