O PET Indígena Ações em Saúde – UFSCAR apresenta, nesta publicação, relatos de experiências de estudantes da graduação, contando um pouco sobre como foi a participação no Acampamento Terra Livre, em Brasília, de 04 a 14 de abril.
“Nós somos mais de 8 mil lideranças de 200 povos indígenas, que viemos de todas as regiões do Brasil para nos reunir no 18º Acampamento Terra Livre”
Segundo a Articulação dos povos indígenas do Brasil – APIB, que organizou e fez o chamamento para o evento, a ida para Brasília foi para “colorir a capital federal de urucum e jenipapo, com as múltiplas cores de nossos cocares”. Além disso, o ATL possibilita “demonstrar ao país e ao mundo que, assim como aprendemos com nossos ancestrais, seguimos e seguiremos juntos, resistindo contra os distintos projetos de extermínio que as elites, donos ou representantes do capital e seus sucessivos governantes e aliados no Poder Legislativo têm articulado contra nós ao longo desses 522 anos”. (APIB, 2022).
Acampamento Terra Livre 2022,abril de 2022. Foto: Erliane Castro/Facebook
Para expressar a importância dessa experiência, destacamos relatos de estudantes que participaram da 18ª edição do Acampamento Terra Livre – ATL
Vivenciando a experiência acadêmica na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os estudantes Túlio Soares, do Povo Dessano e Arlison, participantes da delegação do Rio Negro, consideraram produtivas as discussões políticas do ATL 2022.
Arlison Marinho Ferraz, oriundo do povo Wanano-Kotiria, povo que habita nas regiões de Iauaretê, São Gabriel da Cachoeira, se mostrou motivado para transmitir tudo o que aprendeu, no podcast “Papo de Maloca”, do grupo de jovens do qual faz parte, da Rede Wayuri do Rio Negro.
ARLISON FERRAZ, DO POVO WANANO, ESTUDANTE DO CURSO DE CIÊNCIAS
DA COMPUTAÇÃO – UFSCAR
Durante a mobilização no evento, o que mais chamou atenção dos estudantes indígenas Arlison e Túlio, foi o envolvimento dos jovens na luta, a articulação e a união dos diversos povos de vários estados. Destacamos abaixo a mensagem que o Arlison nos deixou:
“A GENTE PRECISA SER OUVIDO. Deste modo, é importante que a juventude esteja trabalhando na base para que nossos representantes se mobilizem e articulem de acordo com essa base. Acreditamos que vai dar tudo certo e que não vamos parar”. ESTAMOS NA LUTA SEMPRE E VAMOS RESISTIR PARA EXISTIR.”
Arlison deixa uma declaração final, dizendo:
”Nós como Jovens e Estudantes do Amazonas fomos somar força na luta no 18º ATL, se a gente não estiver aqui, ninguém vai saber que existimos ou que os jovens estão presentes no movimento.”
JOCIEL VASCONCELOS, DO POVO TARIANO, ESTUDANTE DO CURSO DE
GESTÃO E ANÁLISE AMBIENTAL-UFSCAR
Jociel fala o quanto foi importante fazer parte desse movimento, que sua experiência foi: “Impactante ver o quanto os povos indígenas são poderosos quando unem as suas forças, ver o tanto de pautas importantes para serem debatidos com nossos políticos atuais. E acrescenta:
“Além de adquirir conhecimentos e estar por dentro de assuntos que às vezes nem sequer nos importamos quando estamos na nossa aldeia. Lá vimos a verdadeira luta e resistência de todos os povos indígenas do Brasil e conhecer várias outras lideranças, movimentos indígenas e tanto grupos sociais que apoiam o movimento. Para mim foi ótimo, e na outra edição eu quero estar presente mais uma vez no Acampamento.”
Pela sua experiência no ATL, Jociel faz um convite para todos que tiverem oportunidade de somar e participar do movimento: “Se tiver oportunidade de fazer parte do Acampamento venha conhecer, apoiar e participar dos Atos, pois é muito importante
para o movimento indígena. Para os parentes, informo que foram lançados pré-candidatos indígenas e que estejamos preparados para apoiar nas eleições que acontecem esse ano.”
Em sua entrevista, Jociel também acentua a importância e a necessidade de somar na luta, de fazer parte do Acampamento, conhecer, apoiar e participar dos Atos; pois, afirma: “somar na luta é ajudar com doação às ONGs responsáveis; pois não é fácil
permanecer no Acampamento por mais de dez dias, resistindo e lutando contra a política que ameaça as nossas vidas, tradições, a demarcação, nossos bem naturais, Enfim, seguiremos lutando e resistindo para existir. Até o ATL 2023.”
Maria Auxiliadora Francisco Brazão, etnia Baniwa, do município de São Gabriel da
Cachoeira – Amazonas, cursando licenciatura em Letras Espanhol pela Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar.
Maria fala da importância de participar do Acampamento Terra Livre, a qual o tema deste ano de 2022 foi: Retomando o Brasil, demarcar territórios e aldear a política. Em sua fala, participar do ATL é:
“somar forças fortalecer a nossa luta, a luta que começou a muitos anos atrás, lutar sobre a demarcação dos nossos territórios, pelas nossas vidas, por nossos bens naturais , reivindicar sobre os nossos direitos constitucionais garantidos em 1988, juntamente com os parentes de outras regiões do brasil”
O que mais chamou atenção da Maria ao participar do evento foi que muitos têm uma visão distorcida em relação aos povos indígenas, em que são vistos como ameaça e ressalta: “ nós não somos ameaça, nunca fomos, e nunca seremos.”
Diante disso, finaliza com uma mensagem: “A luta coletiva sempre tem uma força divina, são encontros de povos originários, com suas sabedorias ancestrais. A lição que devemos levar é saber ser forte diante de tantos retrocessos, mas temos a esperança que as coisas podem mudar, que não desistimos com facilidade, vamos persistir até o fim, vamos continuar lutando para manter nosso território preservado. Estaremos sempre na linha de frente, lutando pela vida e protegendo nosso território.”
Foto: Erliane Maximiano Castro, 2022.
Erliane Maximiano Castro tem 27 anos e nos contou um pouco sobre a sua primeira participação na mobilização do ATL de 2022. Ela é da etnia Baniwa, graduanda em Administração na Universidade Federal de São Carlos do campus Lagoa do Sino, sua cidade de origem é São Gabriel da Cachoeira-Amazonas.
Em sua fala aponta a importância da participação no ATL, e destaca que essa mobilização é considerada a maior dos indígenas, ressalta também que a sua “visibilidade é enorme e traz consigo muitos jovens, adultos, crianças, anciãos e lideranças de todo canto do Brasil para unir forças na luta coletiva.”
A participação da juventude e acadêmicos indígenas tem um grande significado, pois precisamos dar continuidade na luta em defesa dos direitos dos povos indígenas. Esse movimento fortalece e traz muitos ensinamentos, principalmente no reconhecimento de defesa dos direitos já conquistados no país, mas que infelizmente não estão sendo respeitados pelo atual governo, sofrem violações constantemente. No entanto, a presença de todos os indígenas é válida para garantir nossos direitos à vida, o direito de poder viver suas culturas. Durante a mobilização, os indígenas somam força e exigem que seus direitos sejam respeitados.
A experiência no Acampamento Terra Livre, na sua décima oitava realização, ela destaca em sua fala que a participação “contribui para aprendizagem na luta coletiva.” Continua em sua fala, dizendo: “No meu ponto de vista, tudo o que foi abordado foi marcante e chamou a atenção. Ainda mais por serem pautas importantíssimas que podem modificar as nossas
vidas”. Outros pontos destacados pela Erliane, foram:
O “aumento da violência em terras indígenas, os processos de destruição e morte, as políticas anti-indígena adotada pelo governo, a demarcação de terras indígenas e o genocídio indígena.”
No final, nos deixa essa mensagem: “A luta que os nossos antepassados iniciaram, estamos continuando e os nossos filhos continuarão lutando e resistindo. A mensagem que deixo é permanecer e ocupar esses espaços é preciso e importante. A presença da Juventude indígena tem que ser conjunta pois através dela vão aprender a ter força e resistência. As mobilizações são importantes para a visibilidade das lutas e direitos dos povos indígenas, assim, também contribui para aprendizagem na luta coletiva”, reforça a entrevistada.
Como podemos observar, o Acampamento Terra Livre é um marco pela exigência de direitos dos povos indígenas. É realizado todos os anos, trazendo pautas importantes para o debate coletivo, além de outros movimentos que ocorrem ao longo do ano.
Durante esses movimentos, as vozes indígenas são erguidas e clamam pelos seus direitos, as mãos se unem e os pés batem unidos, pois esse ritmo é pela vida dos povos indígenas, que durante anos vêm resistindo para continuar existindo, uma luta que começou há muito tempo e que continua. O movimento é indígena, mas todos, mesmo os não-indígenas, podem e devem participar.
Que venha o próximo ATL em 2023 e que os direitos dos povos indígenas sejam reconhecidos!
Autoria de:
Rosania Ferreira de Lima
Claudiana Brazão Lopes
Guanilce Falcão Soares
Joelson Antonio de Jesus
Revisão:
Willian Fernandes Luna

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Referências:
Entrevista de Arlison Ferraz, Wanano e Jociel Vasconcelos, Tariano; concluído por Guanilce Soares, Povo Tariana -AM. Relatos de Experiências de Estudantes Indígenas no Acampamento Terra Livre 2022. São Carlos, maio de 2022.
Entrevista de Maria Auxiliadora Francisco Brazão da etnia Baniwa, concedida a Rosania Ferreira de Lima da etnia Tariano. Relatos de Experiências de Estudantes Indígenas no Acampamento Terra Livre 2022. São Carlos, maio de 2022.
Entrevista de Erliane Maximiano Castro, concedida a Claudiana Brasão Lopes da etnia Baré. Relatos de Experiências de Estudantes Indígenas no Acampamento Terra Livre 2022. São Carlos, maio de 2022.
O ATL e a Apib. Disponível em https://apiboficial.org/atl2022/