Quando a pandemia da COVID-19 chegou a São Carlos, o município reagiu de modo rápido e eficiente. Com o objetivo de achatar a curva epidêmica, mobilizou toda a sociedade em prol do isolamento social ampliado. As instituições de ensino, as indústrias, o comércio, a sociedade civil, as secretarias municipais, os profissionais da saúde, os hospitais locais, o SUS e o sistema de saúde suplementar, entre outros, se uniram, todos, contra a Covid. Além disso, o município investiu em informação, desenvolveu ações de vigilância epidemiológica, adquiriu testes diagnósticos e contratou leitos hospitalares, de modo que o objetivo foi alcançado: a curva epidêmica segue achatada (Figuras 1 e 2).

Entretanto, as dificuldades inerentes à manutenção prolongada do isolamento social ampliado têm levado à sua flexibilização lenta e gradativa, tornando-se persistentemente abaixo de 50% a partir do 58º dia da epidemia (Figura 2).

Retornando à Figura 1, nota-se que a partir do momento em que a média quinzenal da Taxa Diária do Isolamento Social caiu abaixo de 50% (58º dia), a curva epidêmica assumiu uma inclinação mais vertical. Houve, portanto, uma redução na intensidade do achatamento da curva, porém, sem torná-la perigosamente apiculada. Voltando à Figura 2, vê-se que a frequência de novas mortes também aumentou a partir da queda da Taxa Diária do Isolamento Social para menos de 50%. Associada à proposta da gestão Estadual de ajustar o isolamento social de acordo com a disponibilidade de leitos hospitalares, a contingência acima estabeleceu o seguinte cenário na cidade (Figura 3):

O ciclo azul da Figura 3 não encontra um caminho para interromper a acumulação de novos casos e de novas mortes por COVID-19, mudando apenas o ritmo em que esta acumulação acontece. Portanto, não alcança uma possibilidade para o declínio da curva epidêmica que não seja a imunidade coletiva; imunidade esta previsivelmente não alcançável em curto prazo. Ao mesmo tempo, alterna momentos de ganho econômico com momentos de perda, cujo resultado pode ser um ganho final em torno de zero. Desse modo, há risco do município entrar no ciclo vermelho devido à necessidade de saldo econômico positivo. Tendo em vista que o município de São Carlos já demonstrou ter competência, capacidade e disposição para o enfrentamento da pandemia da COVID-19, achatando satisfatoriamente a curva epidêmica, talvez seja o momento de almejar o declínio da curva para que seja possível sair do ciclo demonstrado na Figura 3.

Uma possibilidade, entre outras, pode ser a que se apresenta na figura 4.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Créditos da Imagem: Freepik

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Autor

  • Bernardino Geraldo Alves Souto

    Médico generalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Mestre em Medicina (Medicina Tropical) e Doutor em Medicina/Ciências da Saúde (Infectologia e Medicina Tropical) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-doutorado em Microbiologia e Infecção pela Universidade do Minho (Portugal).Também é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, em Clínica Médica/Medicina Interna pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e em Epidemiologia em Serviços de Saúde pela UFMG. Na Universidade Federal de São Carlos, é Professor Associado no Curso de Medicina, líder do Grupo de Pesquisa Clínica e Epidemiológica Aplicada em Ciências da Saúde e docente no Programa de Pós-graduação em Gestão da Clínica. Atua especialmente em medicina geral integral, epidemiologia, doenças infecciosas(HIV/AIDS), medicina intensiva, clínica médica, vigilância em saúde, infecção hospitalar, educação médica e gestão pública de saúde. Supervisor de equipe no grupo de Pesquisa Baseada em Bioinformática Integrando Evolução, Biologia e Medicina, do domínio de microbiologia e infecção do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Escola de Medicina da Universidade do Minho, em Braga, Portugal

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One thought on “SOBRE O CONTROLE DA EPIDEMIA DA COVID-19 EM SÃO CARLOS, SP, de 19/03 a 24/07/2020.

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