Quando refletimos sobre sintomas relacionados à saúde, uma das primeiras associações que fazemos é com a dor. Ela é um dos sintomas que mais estão presentes no dia a dia, nos incomodando e prejudicando nossas atividades. O sentimento “dor”, contudo, é muito amplo e merece ser discutido a fundo, sobretudo em momentos difíceis como o que estamos vivenciando: a pandemia da COVID-19.

É importante entender que a dor pode significar muito além do que a dor física (também importante) que sentimos quando cortamos o dedo, por exemplo. O desconforto envolvido pode ser resultado de medos, angústias e aflições, podendo acarretar diferentes “níveis” de dor em cada indivíduo.

A dor foi conceituada pela Associação Internacional para Estudos da Dor (International Association for the Study of Pain – IASP) como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais lesões”, ou seja, a dor é uma sensação muito pessoal e subjetiva, que envolve aspectos culturais e específicos de cada um, podendo ter influências sociais e psíquicas.

Indo ao encontro dessa definição, Cicely Saunders apresentou o conceito de Dor Total, que envolve a complexidade de todos esses aspectos e chama a atenção para a multidimensionalidade da dor e do sofrimento. De acordo com essa visão, o sofrimento surge associado a um conjunto de situações negativas da vida do ser humano, com potencial de gerar desconfortos em diversas esferas. 

Nesse conceito, têm-se as esferas da dor emocional, da dor social, da dor espiritual e da dor física. Em meio à pandemia, todos esses aspectos podem estar comprometidos. Na dimensão social, o medo do isolamento, a perda dos papéis sociais e as dificuldades de comunicação geram desconforto. Em relação à dor emocional, o que estamos vivendo repercute em mudanças de humor e desesperanças, por exemplo. No que tange à dor espiritual, nos questionamos os significados da vida frequentemente. Finalmente, na dimensão física, dificuldades para dormir e mudanças no apetite estão cada vez mais presentes, sendo o conjunto de todos esses fatores desencadeadores ou agravantes de síndromes crônicas dolorosas.

Nas próximas semanas, a Frente Temática em Cuidados Paliativos do InformaSUS-UFSCar trará a Série: Dor e Pandemia, com um total de quatro entrevistas publicadas semanalmente e baseadas nas dimensões diversas da dor (emocional, social, espiritual e física). Serão ouvidos(as) especialistas das mais diversas áreas, desmistificando alguns pontos e orientando sobre outros.

 

Referências

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Integrating palliative care and symptom relief into responses to humanitarian emergencies and crises: a WHO guide. Suíça: WHO, 2018. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/274565/9789241514460-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 08 jul. 2020.
  2. INTERNATIONAL ASSOCIATIONS FOT HE STUDY OF PAIN [Associação Internacional para o Estudo da Dor] – IASP. Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos. Seattle: IASP; 2010. 418 p. Disponível em: https://s3.amazonaws.com/rdcms-iasp/files/production/public/Content/ContentFolders/Publications2/FreeBooks/GuidetoPainManagement_Portuguese.pdf. Acesso em: 08 jul. 2020.
  3. SILVA, J. O.; ARAÚJO, V. M.; CARDOSO, B. G.; CARDOSO, M. G. de M. Dimensão espiritual no controle da dor e sofrimento do paciente com câncer em estágio avançado. Relato de caso. Revista Dor, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 71-74, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132015000100071&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 08 jul. 2020.

 

Elaborado por
Esther Angélica Luiz Ferreira
Juliana Morais Menegussi
Stefhanie Piovezan
Tatiana Barbieri Bombarda.

 

Crédito da imagem: Gerd Altmann por Pixabay

 

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Autor

  • Esther Angélica Luiz Ferreira

    Médica, pediatra e reumatologista pediátrica pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB - UNESP); Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Anestesiologia da FMB - UNESP;Título de Especialista em Pediatria (TEP) pela Associação Médica Brasileira (AMB) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Professora Adjunta do Departamento de Medicina (DMed) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Orientadora da Liga Acadêmica de Terapia Antálgica e Cuidados Paliativos da UFSCar (LATACP);Membro do Departamento Científico de Cuidados Paliativos da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP); Membro do Departamento Científico de Medicina da Dor e Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Integrante da Diretoria 2019/2020 - Academia Nacional de Cuidados Paliativos/ ANCP.

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