O Grupo Temático de Saúde Indígena do InformaSUS fez sua terceira entrevista com estudantes indígenas da UFSCar. Nossa entrevistada é a Dayane Teixeira de Almeira, recém formada no curso de psicologia da UFSCar. A estudante é do povo Tariano, do Município de São Gabriel da Cachoeira-AM, mais precisamente do distrito de Iauarete e “Tariano” significa filhos do sangue do trovão na língua local.
Nossa entrevistada conta sobre sua trajetória na UFSCar desde quando terminou o ensino médio no distrito de Iauaretê, em 2011, e fez o vestibular indígena em 2012, nessa época ela já tinha interesse pela universidade e imaginava a possibilidade de conseguir uma das vagas. Ainda assim, Dayane fala que vir para outro estado e ficar tão distante de sua família foi algo a ser decidido muito rapidamente, pois na semana seguinte já teria que se apresentar para matrícula.
Em 2013, já em São Carlos, foi recebida por alguns estudantes que aguardavam o resultado do vestibular na cidade, pessoas que ela não conhecia mas que a acolheram e facilitaram sua chegada à UFSCar. A adaptação à cidade acontece sob um olhar de superação pois a estudante fala que sentiu saudade da família, mas entendia que era algo necessário e que era uma escolha sua estar ali e avalia que aprendeu a lidar muito bem com essa situação. No inicio do curso não tinha uma visão voltada para as questões indígenas, mas com o passar do tempo foi percebendo melhor a importância da luta política dos povos indígenas. Desde o início se interessou pelos programas de extensão da UFSCar e acabou entrando no PET Indígena – Ações em Saúde, onde pode
ter uma visão mais ampla sobre diversos assuntos e se tornou uma pessoa mais engajada e reflexiva diante das questões indígenas, suas lutas e seu espaço na universidade.
No contexto da pandemia de COVID-19, ela relata que passou a quarentena em São Carlos, mas que soube das dificuldades enfrentadas pelo seu município, dos problemas do sistema público de saúde e do grande número de casos que deixou os hospitais sobrecarregados. Houve também muita mobilização da população indígena buscando possibilidades de cuidado tradicionais como a utilização de ervas e plantas que pudessem ajudar nesse momento caótico. Além disso, a população também se engajou com a produção de máscaras; comerciantes ajudaram na distribuição de alimentos e algumas ONGs de fora do município trouxeram ajuda para a região.
Por fim, Dayane fala sobre suas expectativas de atuação como psicóloga, se sente motivada em atuar na saúde indígena e trabalhar com adolescentes e jovens adultos, isso é algo que a motiva a voltar para a sua comunidade e ajudar a todos.
Essa entrevista foi realizada no dia 27 de julho de 2020 pela professora Mariana Fagá, médica de família e comunidade e docente do Departamento de Medicina da UFSCar. A produção do texto para divulgação da entrevista foi feita pelos estudantes Raniel Martinha de Souza e Guanilce Soares Falcão e a produção de áudio e música foi de Pablo Iskaywari.
Ouça a entrevista:
Crédito da Imagem: Arquivo da entrevistada
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