Desenhar e pintar me levam para um mundo paralelo, em outra dimensão. Nesse mundo eu me sinto realizada, estou na minha própria casa esperando a sopa ficar pronta enquanto estou pintando coisas aleatórias. Nesse momento todas as minhas frustrações desaparecem, minhas preocupações já não fazem mais parte de mim. Nesse momento eu nem mesmo sou estudante de alguma coisa e não me preocupo com a matéria acumulada. Ou com o objetivo que ainda não alcancei, ou com o curso que ainda não fiz, a resenha que ainda não terminei…Sabe, você precisa disso. Saia do seu mundo, é importante ser produtivo com coisas que alimentam sua tranquilidade. Você já tirou um tempo para olhar a janela?

 Bom, este é um breve devaneio que muito penso em relação ao momento que estamos e as cobranças que me faço. Pergunto-me qual a finalidade e a qual ponto quero chegar me transformando em uma máquina ou, pasmem: uma empresa que somente produz e produz. Nós nos transformamos no reflexo (ou sintoma) de uma sociedade que pressupõe velocidades rápidas para garantir ciclos viciosos (e doentes) de produtividade. Então, somos nós a consequência? Enfim, não quero entrar em outras discussões. Mas acontece que me incomoda o discurso de que é preciso ser produtivo ao extremo para alcançar o famigerado sucesso. O que me remete ao velho discurso da meritocracia, mas enfim.

Então, que tipo de incentivo é esse que te leva a exaustão?

De fato, estamos enfrentando impasses diversos em meio a possibilidades e particularidades infinitas. As pessoas todas estão vivendo em um presente sem fim num eterno domingo, mas isso não significa ser oportuno passar dos seus limites.

Essa “produtividade” ou ocupações extremas e esgotamento mental, causado pelo excesso de trabalho, talvez seja um exemplo de que ninguém aguenta estar 100% ativo em tudo, buscando sempre as conclusões das coisas.

Buscar conclusões em tudo me remete a outra reflexão: de que é importante ser inconcluso e inacabado. 

“Inconcluso” é uma palavra que encontrei no livro “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire. Confesso que nunca tinha visto ela ser usada num contexto como este. E essa palavra, em particular, mudou todo meu entendimento sobre o que é ser uma cientista, mulher, uma estudante e uma pessoa por completo. Pois, talvez estejamos muito preocupados em ser seres completos de tudo, e certos de tudo, sempre buscando alguma conclusão, alguma finalidade, acabamento… O que estou tentando dizer é que não precisamos ser demasiado seguros das certezas pois somos a ocorrência e não a constatação. Não podemos ser o determinado e sim o condicionado a ser, como o próprio Paulo Freire nos ensina. Seja você, seja o ser incompleto. Seja o ser, pois ser é coexistir, é resistir, é duvidar. E tudo bem não ser completo, ser completo é chato, é seguro demais, e ao mesmo tempo, é frígido. É por isso, que te proponho voltar lá no início do texto, onde te convido a olhar a janela. Olhe as cores lá de fora, o som dos pássaros, o barulho das pessoas ou do vento. Se ocupe como puder com coisas que te tragam tranquilidade, você merece. E está tudo bem não fazer todas a matérias do ENPE.  

(O texto foi elaborado como um relato por uma participante do projeto permaneSer com o objetivo de refletir sobre assuntos pertinentes e comuns à permanência estudantil na Universidade)

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Créditos da Imagem: Karolina Cardozo Dias

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Autor

  • Karolina Cardozo Dias

    Graduada de Geografia pela Universidade Federal de São Carlos. Representante Discente do Conselho de Graduação. Bolsista de iniciação à docência/CAPES, membro do GT de saúde da AGB Presidente Prudente, militante pelo SUS com interesse em Geografia da saúde.

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One thought on “Ser ocupado ou ser produtivo? A linha é tênue, acreditem.

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