Iniciamos hoje uma série de cinco postagens sobre violência doméstica, em especial sobre violência contra a mulher. 

A violência contra a mulher no Brasil é uma temática que precisa ser amplamente abordada. Segundo o Atlas da Violência (2020), no ano de 2018, a cada duas horas, uma mulher foi assassinada no Brasil. Ao todo, foram 4.519 vítimas naquele ano.

A esse respeito, e mais especificamente sobre os dias atuais, a nota técnica Violência Doméstica Durante Pandemia de COVID-19 Edição 03, emitida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que, em decorrência do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, as situações de violência doméstica estão cada vez mais frequentes. Nesse período, o convívio familiar mais intenso aumentou a exposição de mulheres às agressões. Além disso, as altas taxas de desemprego (COSTA, 2020) e o aumento do consumo de bebidas alcoólicas (GARCIA E SANCHES, 2020) também potencializam essa problemática.

Outra constatação alarmante dessa mesma nota técnica indica que, apesar de haver uma redução em diversos outros crimes contra as mulheres na maioria dos estados brasileiros, aumentaram os casos de violência letal (feminicídio) em comparação aos mesmos meses do ano de 2019. Essa informação pode indicar que as mulheres estão encontrando ainda mais barreiras para acessar as redes de proteção e os canais de denúncia durante a pandemia. Além disso, o levantamento Atlas  da  Violência  (2020) revelou que 68% das mulheres assassinadas no Brasil em 2018 eram negras, constatação que muito provavelmente também se aplica ao cenário atual.

 

Design por Ana Paula de Lima

 

Atualmente, devido à pandemia, observa-se um agravamento das situações de violência, uma vez que houve um significativo aumento no convívio entre mulheres e agressores. Considera-se, somado a isso, o fato das pessoas estarem mais fragilizadas pelo distanciamento social, por situações de desemprego ou redução da carga horária de trabalho e, consequentemente, por diminuição da renda familiar. Ademais, o acesso à rede de apoio por meio dos sistemas de saúde e dos serviços sociais está mais restrito durante a pandemia.

 

Design por Amanda Penetta

 

Os movimentos em defesa aos direitos das mulheres têm alcançado grandes conquistas, mas ainda temos muitas batalhas pela frente. As mulheres continuam tendo dificuldades para enfrentar a violência doméstica e, algumas delas, por terem acesso restrito às informações, desconhecem seus direitos. Além disso, a falta de uma rede de suporte para que as mulheres se sintam amparadas para mudar a situação de violência ainda é um aspecto muito relevante.

Como estratégia para ampliar essa discussão, o grupo temático Diversidade e Cidadania e o PET-Saúde/Interprofissionalidades reuniram um grupo de docentes e estudantes interessados em explorar a temática da violência de gênero. Como resultado, foi proposta uma série de cinco postagens com a intenção de esclarecer pontos importantes e explorar algumas experiências na rede de saúde e assistência social da cidade de São Carlos. Acreditamos que com essas postagens poderemos ajudar as pessoas a entenderem quais são os tipos de violência e como funciona o ciclo da violência. Poderemos, sobretudo, auxiliá-las a tomarem conhecimento de possíveis estratégias para o rompimento desse ciclo tão sofrido e perigoso. 

Ao longo das próximas cinco semanas, sempre às sextas-feiras, serão apresentadas as seguintes postagens:

     1 – Um texto acerca dos tipos de violência e do ciclo da violência.

     2 – Uma entrevista sobre violência contra mulheres em situação de rua, com profissionais do Consultório na Rua.

     3 – Um texto a respeito de estratégias para romper o ciclo da violência.

Perceber que a violência doméstica acontece em forma de ciclos, e que esses ciclos são relativamente estáveis, já é um bom começo. Para além, é importante discutirmos as formas de rompimento com o ciclo da violência e a busca por uma rede fortalecida de apoio. Rede essa que auxilia as mulheres a se sentirem empoderadas e encorajadas a modificar essa realidade tão dura.

Mesmo que você não viva uma situação de violência, pode ser que conheça alguém que sim. Por isso, essas informações poderão ajudar mulheres e/ou famílias que estão sofrendo com a violência doméstica.

 

Referências:

COSTA, SS. Pandemia e desemprego no Brasil. Rev. Adm. Pública, jul/ago 2020; 54(4): 969-78. 

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Nota Técnica. Violência Doméstica Durante Pandemia de Covid-19 Edição 03. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-ed03-v2.pdf. Acesso em: 05 nov. 2020.

GARCIA, LP; SANCHES, ZM. Consumo de álcool durante a pandemia da COVID-19: uma reflexão necessária para o enfrentamento da situação. Cad. Saúde Pública, 2020; 36(10):1-6.

PEA, INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da Violência, 2020. DOI: https://dx.doi.org/10.38116.riatlasdaviolencia2020. Acesso em: 05 nov. 2020.

 

Equipes envolvidas:

PET-Saúde/Interprofissionalidade – São Carlos – UFSCar
Ana Beatriz de Moura
Cristina Helena Bruno
Jair Borges Barbosa Neto
Júlia Caltabiano Porto
Liliane Tiemy Yanaguizawa Pacca

Grupo Temático Diversidade e Cidadania
Amanda Lélis Angotti Azevedo
Andressa Soares Junqueira
Beatriz Barea Carvalho
Camila Felix Rossi
Carla Regina Silva
Carolina Serrati Moreno
Flávio Adriano Borges
Glieb Slywitch Filho
Jhonatan Vinicius de Sousa Dutra
Larissa Campagna Martini
Letícia de Paula Gomes
Natália Pressuto Pennachioni
Natália Stofel
Uma Reis Sorrequia

 

Créditos da imagem: Tumisu no Pixabay

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Autor

  • Larissa Campagna Martini

    Professora do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Gestão da Clínica, ambos da Universidade Federal de São Carlos. Formada em Terapia Ocupacional, com Doutorado em Psiquiatria e Psicologia Médica pela UNIFESP. Áreas de atuação: Saúde Mental, Trabalho e Saúde, Inclusão no Trabalho e Atenção Básica.

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