Os Centros de Referência do Idoso (CRI), assim como os Centros de Convivência (CC), são dois tipos de serviços que promovem interação social e compõe o SUAS – Sistema Único de Assistência Social. Esses serviços executam ações de convivência e fortalecimento de vínculos, promovendo saúde e participação social aos usuários.

Dentre as muitas atividades coletivas realizadas nos CRIs e CCs podemos citar: reflexões sobre temáticas atuais voltadas para a convivência familiar e comunitária, atividade física e cognitiva, inclusão digital, artesanatos em geral, pintura, diversas oficinas de teatro e de música, aulas de alongamento, musculação, ginástica localizada, dançaterapia, dança de livre expressão, dança circular, tem grupo de sapateado, jogos e brincadeiras.

O município de São Carlos conta com algumas unidades de Centros Comunitários distribuídos por regiões da cidade e uma unidade do Centro de Referência do Idoso no bairro Vila Irene. Para saber onde está o Centro Comunitário mais próximo da sua casa, durante o período da pandemia, a Secretaria de Cidadania e Assistência tem recomendado que os contatos sejam feitos por telefone (16) 3371-1122 ou (16) 3371-2290 ou, ainda, pelo e-mail social@saocarlos.sp.gov.

Mas, basicamente, o que diferencia os Centros de Convivência dos Centros de Referência do Idoso?

O público-alvo é a primeira diferença: nos Centro de Referência do Idoso (CRI), como o próprio nome diz, as ações são voltadas para a população de mais de 60 anos (idade a partir da qual, no Brasil, as pessoas são consideradas idosas) e, nos Centro de Convivência (CC), as ações se estendem para todas as faixas etárias. Outra diferença importante é que no CRI a equipe básica de serviço deve ser composta por diversos profissionais da saúde e assistentes sociais, configurando uma equipe com ação intersetorial.

O município de São Carlos conta com o Centro de Referência do Idoso “Vera Lúcia Pilla”, que, apesar de ter uma equipe reduzida, atende cerca de 200  pessoas idosas. A equipe é formada por professora de artes, um professor de inclusão digital, dois profissionais de educação física, um funcionario administrativo, um profissional de serviços gerais, oficineiros de artesanato, circo, música, teatro e estagiários do curso de Gerontologia da UFSCar. Entretanto, em razão de contar apenas com profissional de educação física como profissional da saúde, não havendo terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, etc, o funcionamento tem se aproximado de um Centro de Convivência para pessoas idosas. Assim, esse CRI conta com uma grade de atividades direcionadas a atividades culturais, artesanais, artísticas e físicas (musculação, alongamento, dança, etc), segundo nos informou a professora Nilva Rodrigues.

A proposta é que os Centros de Referência voltados à população idosa ofereçam serviços públicos gratuitos com os seguintes objetivos: contribuir para um envelhecimento ativo, saudável e autônomo; assegurar um espaço de encontro entre idosos e também encontros intergeracionais, promovendo a convivência familiar e comunitária; detectar e explorar possíveis necessidades e motivações, a fim de desenvolver potencialidades e capacidades para novos projetos de vida e; propiciar vivências que potencializam a condição de escolher e decidir (BRASIL, 2017).

No caso do CRI “Vera Lucia Pilla” não é diferente. Nilva retratou, ao longo da entrevista que será apresentada no vídeo abaixo,  diversas atividades que costumam realizar e que podem contribuir para os aspectos citados anteriormente. Ela observa e ouve relatos das pessoas idosas após seu envolvimento nas atividades do CRI e relata que há algumas mudanças relacionadas à saúde dos frequentadores, como uma diminuição de medicamentos para insônia e diminuição do sentimento de tristeza.

Em relação aos trabalhos desenvolvidos, podemos citar alguns exemplos como apresentações de dança, comemorações de datas festivas: festa junina, carnaval, confraternizações de fim de ano, Dia Internacional da Mulher, eventos nos quais os idosos levam seus familiares, viagens, oficinas teatrais, encontros intergeracionais entre o serviço e a UAC (Unidade de Atendimento à Criança) e com o grupo de mulheres da Unidade Básica de Saúde São José, dentre outros.

Um pouco da História do CRI Vera Lúcia Pilla e de sua coordenadora Nilva Rodrigues

Oficialmente, o Centro de Referência do Idoso “Vera Lúcia Pilla” foi inaugurado no município de São Carlos em 2002, porém, anteriormente a este ano, já aconteciam diversos trabalhos direcionados a promover a convivência e a participação social para a população idosa nesse local. Haviam outros trabalhos no município de São Carlos sendo realizados com pessoas idosas, porém eram voltados apenas ao artesanato e outras atividades manuais. A professora Nilva Rodrigues foi a pioneira no município em olhar para outras atividades corporais e de movimento para esta população. Para entendermos melhor esta história, entrevistamos a própria Nilva Rodrigues, orientadora técnica de programas do CRI. Ela nos contou sua trajetória profissional e sobre o trabalho que desenvolve com a população idosa da região, antes e ao longo da Pandemia da COVID-19.

Nilva Rodrigues possui formação em dança clássica, artes plásticas, terapia comunitária e, devido ao seu trabalho no CRI, especializou-se em Gerontologia. Começou a se interessar em trabalhar nessa área com as idosas que frequentavam o Centro Comunitário que, enquanto os netos jogavam futebol, ficavam conversando e fazendo artesanatos. Nilva disse que chamou sua atenção o fato de não haver atividades físicas para o público idoso, apenas artesanais, o que a motivou a trabalhar na articulação para que fosse criado um espaço específico para atender as pessoas idosas, integrando atividades direcionadas a promover troca de cultura, cuidar da saúde física e realizar atividades artesanais e artísticas.

A entrevista é exibida no vídeo abaixo e retrata a história de Nilva e do CRI, narrada por ela e ilustrada com fotos da população idosa atendida e das atividades por eles realizadas no Centro ao longo de todos esses anos de funcionamento. Todas as imagens do vídeo foram encontradas na mídia social do CRI Vera Lúcia Pilla.

 

 

E durante a Pandemia? O que tem sido feito?

Desde o início da necessidade do distanciamento social como forma de contenção da pandemia por COVID-19, o trabalho no CRI precisou ser adaptado. Em março de 2020, a partir do decreto da quarentena no estado de São Paulo, a sede do CRI está fechada e Nilva começou a acompanhar à distância a população atendida, enviando atividades. 

Entre as atividades propostas, estão os kits de bordado, por exemplo, para as pessoas idosas que gostam de trabalhos manuais. Preocupada por organizar o material de maneira diferenciada, Nilva pegou um longo tecido, cortou em quadradinhos de mesmo tamanho e deixou todos separados para cada pessoa do Centro. Sua proposta é recolher todos os retalhos feitos ao longo desse período e juntá-los em uma só colcha, quando for possível retornar as atividades presenciais. O trabalho e o envolvimento coletivo produz o sentimento de pertencimento: “Elas sentem que naquele trabalho estão juntas enquanto grupo. É uma atividade que faz muito mais sentido quando você faz para o outro do que só para si. Foi uma ideia bacana”, relata Nilva. 

Seu trabalho não termina por aí. Nilva faz atividades por chamadas de vídeo com os idosos que possuem acesso à internet e smartphones, como aulas de música, dança, sapateado, canto, alongamento, grupos com jogos de adivinhações para estimular a memória, grupos para que algum idoso que saiba fazer uma atividade específica possa ensinar para os demais que querem aprender e também grupos para conversar sobre temáticas variadas – esta última atividade, proposta pelas idosas atendidas. 

Para aqueles que não possuem acesso à internet, Nilva se prontifica a telefonar a cada duas semanas para conversar e checar como estão passando. Além disso, incentiva os outros idosos do grupo a ligarem para eles também.

Nilva também acredita que a informação é algo muito importante. Ela tem realizado estudos acerca da COVID-19, sobre métodos de transmissão, a importância do distanciamento e as medidas de precaução para evitar o contágio, para poder passar para os idosos essas informações de modo a facilitar sua compreensão, tirando dúvidas e ampliando as discussões com eles sobre o tema. 

O CRI também conta com o apoio de outros dispositivos da rede do SUAS para oferecer um trabalho mais ampliado. Assim, quando são identificadas necessidades de saúde mental, Nilva solicita atendimento para pessoas acompanhadas para o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e a psicóloga responsável entra em contato direto com a pessoa necessitada, prestando a assistência individualizada necessária.

O que aprendemos com a Nilva?

O trabalho que Nilva faz com a população idosa no Centro de Referência do Idoso “Vera Lucia Pilla” é uma inspiração para quem está inserido nessa área. Ao conversar com ela, são notórios em seu olhar o cuidado, a atenção e a vontade de assistir essa população da melhor maneira possível. Podemos aprender muito com seu trabalho e observar na prática o quanto a convivência, a criação de vínculos, a autonomia e a participação social são significativas para a prevenção de agravos relacionados à saúde mental na velhice.

O SUAS, assim como o SUS, é uma política pública que possui importância vital para a sociedade brasileira, e não pode deixar de ser garantido por meio de serviços que o compõe, como os Centros de Referência do Idoso e os Centros de Convivência.

Agradecemos e parabenizamos especialmente à Nilva Rodrigues pelo trabalho sensível e cuidadoso que desenvolve no CRI, que é fascinante e contagiante, além de sua disponibilidade em nos atender e ceder essa entrevista. Agradecemos também a todas as pessoas integrantes do serviço pelas imagens cedidas.

 

Conteúdo desenvolvido por:

Iara Rocha e Beatriz Borges Silva, acadêmicas do Curso de Terapia Ocupacional da UFSCar.

Texto revisado e atualizado em 08/10/20 por Claudia Aline Valente Santos.

Referência:
BRASIL. Perguntas frequentes. Serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília-DF, 10 jul. 2017. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/perguntas_e_respostas/PerguntasFrequentesSCFV_032017.pdf. Acesso em: 27 jul. 2020.

Crédito da imagem: Royalty Free illustration em Rawpixel

 

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