Autoria: Joelma Couto
Descrição da obra: Penélope era uma menina dengosa e cheia de manias, não se dedicava aos estudos até passar por momentos difíceis, quando fez promessa de mudança e deu o primeiro passo rumo ao seu ousado sonho.
Expressão: Literatura
SINOPSE
Penélope era uma menina dengosa e cheia de manias, não se dedicava aos
estudos até passar por momentos difíceis, quando fez promessa de mudança e deu o primeiro passo rumo ao seu ousado sonho.
PROMESSA
Do alto do seu apartamento – para ser mais exato, décimo terceiro andar- Penélope enfeita seus cabelos com laços de fitas coloridas e perfumadas, contornando os cachinhos dourados. Olha outra vez no espelho e ajeita os últimos detalhes da sua produção. Afinal, o que a deixava tão entusiasmada para voltar à escola? Após o longo período de reclusão durante a pandemia do Coronavírus, voltar aos estudos tornou-se um evento. Assim ela se veste de corpo e alma e vai tomar o café da manhã. Até o café com leite e torradas de todo dia, hoje ganharam novo sabor. Ela pensa enquanto beberica o café e suspira contente, imaginando o mundo inteiramente de braços abertos para recebê-la. O elevador parece aos seus olhos uma nave rumo ao paraíso, depois percorre a garagem e entra no carro junto com sua mãe. O trânsito pinta diante dos seus olhos as paisagens com árvores, edifícios e outros carros, despertando as melhores emoções adormecidas.
Ela que tantas vezes reclamou de ter que estudar, que tratava as tarefas com má vontade, brigava com os colegas e resmungava o tempo inteiro que estudar é chato, teve bastante tempo para pensar naquilo que ela não valorizava e sentiu muita saudade, mesmo do que ela considerava cansativo. Fez promessas, jurou baixinho ao seu anjo protetor e nas suas preces, prometeu não economizar esforços para viver diferente, estava disposta a fazer o impossível para aprender a ler. Ela sempre teve muita dificuldade e falta de interesse, pois inteligência tem de sobra. Nos últimos dias, essa habilidade com as palavras fizera muita falta, adoraria poder escrever tudo que sentia e não sabia como falar, sem contar naqueles livros lindíssimos, coloridos e cheios de aventuras na estante de Ana, sua irmã, que nem sempre estava disposta a ler para ela. Assim, passava horas percorrendo as páginas com os dedos, deslizando-os sobre papel brilhante, imaginando viajar sozinha através daquelas histórias.
Marta estacionou o carro diante da escola e a acompanhou com os olhos, no silêncio tentava entender como se deu essa mudança radical. Hoje ela não mais se parecia com aquela criança dengosa e cheia de birra, embora ainda esteja com seus sete anos incompletos, é visivelmente uma menina que dá seus primeiros passos rumo ao futuro. Com os olhos marejados e o coração acelerado, Penélope desce do carro com um ar solene, acena calorosamente para a mãe, que a olha orgulhosa, contemplando as sementes dos tempos difíceis germinando no coração de uma criança.
— Bom dia, tio Pedro! — ela cumprimenta o porteiro, que olha boquiaberto para a garota.
— Bom dia, seja bem-vinda!
— Luíza, que saudade! Luíza sem entender nada, a olhou assustada.
— Saudades? Você sempre implicou comigo. Disse Luíza, totalmente surpresa.
Por não saber lidar bem com as palavras, Penélope somente abraça a colega
calorosamente.
Todos à sua volta não a reconhecem, a professora acompanha atentamente o capricho dedicado às tarefas, com dificuldades, mas uma vontade enorme de aprender, ela não economiza esforços, apaga, refaz, tenta mais uma vez e outra… Após uma manhã repleta de acontecimentos, é chegada a hora de voltar para casa. Marta a espera no portão, insegura, pois imagina que, como de costume, terá alguma reclamação. Mas, nada acontece, ela sai com os olhos brilhando exibindo sua tarefa:
— Hoje foi tudo diferente, mamãe.
— É, filha? Estou muito orgulhosa, e tenho uma surpresa para você.
— Conta, conta, estou curiosa, por favor!
— É surpresa, calma, vamos!
O trânsito não foi generoso com o coração de uma garota curiosa, aos poucos as ruas foram revelando familiaridades, de repente estão diante da casa de sua bisavó, que há meses estava hospitalizada lutando contra o vírus. Penélope não sossega na cadeira, enquanto sua mãe estaciona o carro. A garota abre a porta, desce do carro, e, como sempre fizera, entra correndo naquela casa, que é para ela um pedacinho do céu aqui na Terra. Em frente ao portão, vê sua bisa na cadeira de rodas, com os olhos brilhando e sorriso no rosto, abre os braços para a garota, que se joga acomodando seu corpinho de criança nos braços de bisa Ana e vai logo sussurrando:
— Meu pedido foi atendido, hoje começo a pagar a minha promessa. Vou aprender a ler e escrever, me tornar escritora e contar nossa história para o mundo todinho!