Com a pandemia da COVID-19, os atendimentos presenciais para pessoas idosas com comprometimento cognitivo (em sua maioria, em processos demenciais) se encontram restritos, trazendo o desafio de criar novas formas de prestar cuidados, mesmo a distância.
São tempos de ressignificação de espaços, de contextos, atividades. E, frente a isso, compreender que se faz necessário uma reestruturação da prática em Terapia Ocupacional é fundamental, seja com novas maneiras de atender e cuidar de pacientes/usuários, seja com discussões sobre enfrentamentos e potências que esse momento exige.
Assim, para apresentarmos uma possibilidade de prática, entrevistamos a Ana Cláudia Trombella Barros, terapeuta ocupacional que tem atuado neste período de pandemia atendendo idosos com alterações cognitivas — em sua maioria, em processos demenciais —, por meio das tecnologias de informação e comunicação.
Acompanhe a entrevista no link a seguir (clique na imagem):
Como têm acontecido os atendimentos remotos para essa população?
Entende-se que o dever do profissional, frente aos cuidados do paciente com alterações cognitivas e frente ao atendimento remoto, consiste, basicamente, em fazer orientações e estimulação cognitiva. Processo esse realizado por meio de auxílios verbais, assim como por cartilhas virtuais, infográficos e vídeos de fácil acesso e entendimento para cuidadores e para o idoso a ser atendido.
A orientação inclui o cuidado com a alimentação saudável, as atividades de vida diária, a prática de atividades físicas (na medida do possível) e a administração de medicamentos. A estimulação acontece a partir de atividades indicadas e acompanhadas pelo terapeuta ocupacional, as quais buscam estimular cognitivamente o sujeito. Além disso, caso o idoso precise de assistência extra, compete ao profissional o contato com outras equipes de saúde. O intuito é que o melhor cuidado possível seja feito a distância da mesma forma que poderia ser feito presencialmente em uma clínica, buscando o bem-estar e a melhora global da pessoa idosa atendida. Vale ainda reforçar que a participação do cuidador é indispensável para os atendimentos remotos desse perfil de idosos.

Os atendimentos remotos também requerem a manutenção da responsabilidade ética, dentro dos padrões dos Conselhos de Classes dos Profissionais de Saúde, sendo preciso garantir a segurança para o idoso e o profissional da Terapia Ocupacional. Inclusive, o registro do encontro on-line deve continuar sendo feito da maneira como o profissional vinha realizando, no prontuário físico ou em folha de evolução virtual, guardado com seguridade pelo profissional e solicitado pelo paciente a qualquer momento.
Atenção: Conselhos Profissionais de olho na qualidade do trabalho ofertado à população
Como uma estratégia para manter os atendimentos em Terapia Ocupacional frente à pandemia de COVID-19, em 23 de março de 2020, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), publicou, no Diário Oficial da União, a Resolução COFFITO nº 516/2020, que suspende os efeitos do art. 15, inciso II, do Código de Ética — com caráter de excepcionalidade —, e permite o atendimento não presencial em modalidades específicas para Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais.
Esses atendimentos não presenciais incluem três (3) possibilidades, sendo elas: a teleconsulta (consultas clínicas), o teleatendimento (prática fundamentada em evidência clínico-científica) e o telemonitoramento (acompanhamento de pacientes/usuários já previamente atendidos, podendo haver momentos síncronos e assíncronos). Essas práticas são viabilizadas pelo uso das tecnologias da informação e comunicação, como: computadores, notebooks e aparelhos celulares.

A resolução define regras para as práticas remotas e adverte que os profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais ainda estão sujeitos às mesmas condições de fiscalização de documentação, armazenamento e recuperação dos registros do paciente do atendimento presencial.
Diante de tal reestruturação da prática, é importante pontuar seus desafios, bem como as virtudes desse momento. Um exemplo disso é a necessidade da prática de Educação em Saúde nos atendimentos remotos. Essa estratégia envolve capacitação, esclarecimento e trocas de saberes entre pacientes, cuidadores e profissionais, a fim de proporcionar um tratamento consciente para com os usuários, diante de cada ação do cotidiano e do próprio profissional. Portanto, as relações dentro das práticas em saúde são horizontalizadas, rompendo concomitantemente com a relação medicalocêntrica, que é verticalizada.
Para mais informações:
Nossa entrevistada, Ana Claudia T. Barros, é coordenadora da ABRAz São Carlos. Para contatá-la, enviar dúvidas ou conhecer mais as ações da ABRAz, acesse:
- Instagram (@abrazsaocarlos e @abraz.regionalsaopaulo);
- site da ABRAz nacional: www.abraz.org.br;
- e-mails (barros@terra.com.br ou abrazsaocarlos@gmail.com).
Agradecimentos:
Nossa imensa gratidão à Ana Cláudia, que aceitou participar deste trabalho conosco e nos possibilitou compreender um pouco de como têm acontecido alguns atendimentos remotos neste período. Muito obrigada, Ana!
Autoria:
Beatriz Borges Silva
Dandara Pereira Sousa
Maria Silvia Barros Leal
Rafaela Correia Gonçalves
Colaboração:
Ana Cláudia Trombella Barros – Terapeuta Ocupacional, coordenadora da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) sub-regional de São Carlos/SP e colaboradora no Ambulatório de Neurologia Cognitiva e Comportamental do Hospital Universitário – UFSCar.
Revisão:
Profa. Dra. Claudia Aline Valente Santos
Referências:
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO). Resolução Nº 516, de 20 de Março de 2020 – Teleconsulta, Telemonitoramento e Teleconsultoria. Diário Oficial da União. Brasília. 2020. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=15825. Acesso em: 18 out. 2020
CORREA, Suzana Elisa Sedrez; SILVA, Derivan Brito da. Abordagem cognitiva na intervenção terapêutica ocupacional com indivíduos com Doença de Alzheimer. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 463-474, Dez. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232009000300463&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18 out. 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1809-9823.2009.00012.
Observação: conteúdo produzido durante a disciplina Terapia Ocupacional Aplicada à Gerontologia
Crédito da imagem: Nappy em Pexels
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Categoria: Idosos e a COVID-19
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Bom dia ! Meu nome é Renata. Tenho interesse em inscrever meu Pai, tem 83 anos, está apresentando sintomas de esquecimentos, o Psiquiatra avaliou e supõe que seja Alzeimer