Autoria: Malvina de Castro Rosa

Descrição da obra: “Ódio Criativo” aborda as formas como as pessoas encontraram para enfrentar a situação que vivemos.

Expressão: Literatura

 

Ódio Criativo

Vivemos um momento único na história da humanidade. Estamos todos literalmente cagados de medo, guardados em casa e nosso inimigo é invisível: um vírus. Quem não está nessa situação ou não entendeu o que está acontecendo, ou não tem informação suficiente ou tá saindo mesmo cagado
porque precisa sobreviver e não tem outra opção.
O fato é que esse inimigo invisível está nos fazendo questionar a sociedade que conhecíamos.
Desde as relações de consumo até o patriarcado. Não é coincidência que os países que tem melhor índice de resposta ao inimigo invisível são liderados por mulheres. O fato é que junto com a terceira onda feminista veio um vírus para ajudar a mostrar ao mundo que precisamos mais das mulheres do que os homens até agora consideravam.
Outro fato negativamente interessante, às vezes desesperador para quem (como eu) vive em um dos países mais machistas do mundo, é que as mulheres comprovadamente estão sendo mais afetadas indiretamente pelo confinamento que a pandemia impõe. A violência doméstica cresceu absurdamente no Brasil desde o início disso tudo. As crianças estão sem escola e mulheres tem a
jornada tripla intensificada. É um tal de tentar trabalhar, cuidar das crianças, limpar a casa, lavar todos os itens comprados, fazer mil lanchinhos para os pequenos e de quebra tentar desenvolver habilidades para dar conta das atividades escolares das crias. Tem horas que o que resta fazer é agir
como um homem: se trancar no banheiro com um celular, fingir que está fazendo suas necessidades
e ficar lá futricando no celular ignorando que a casa está caindo lá fora e aquelas crianças não param de brigar porque não aguentam mais ficar confinados.
Pena que aqui no Brasil nem sempre isso é uma boa opção porque você entra na internet e se depara com a política brasileira, com um presidente misógino, machista, sexista, genocida tentando levar à morte milhares de brasileiros pobres sem a menor dó ou piedade. O Brasil é o pandemônio no meio
da pandemia, nem Hollywood quando produziu filmes apocalípticos conseguiu neles colocar um chefe de estado tão absurdamente louco, inapto e bestial, mas aqui no Brasil nossa capacidade de inovação é algo, superamos até Hollywood!
No meio dessa loucura toda muito tem se falado em ócio criativo. Alguns defendem que nesse momento se produza, outros acreditam que só ócio está ótimo, o não fazer nada em meio a uma pandemia está de bom tamanho. Por outro lado nunca ouvi falar do ódio criativo e acredito que ele
tem sido muito presente na vida dos brasileiros e das brasileiras, em especial na delas. O ódio criativo funciona como a válvula de escape para não enlouquecer no pandemônio. Em meio a essa loucura é um tal de fazer pãozinho, coxinha, live, crochê, desenhar, escrever, bordar e desenvolver mil habilidades novas. Isso não vem do ócio, isso vem do ódio mesmo! É a maneira que encontramos para fugir do mundo real, em vez de parecer uma louca gritando com as crianças (que são as maiores vítimas disso tudo), em vez de matar o vizinho bolsominion, em vez de mandar uma bomba para o parente que diz que é só uma gripe e que a economia não poder parar, a gente faz o quê? Faz curso de macramê, descobre como fazer pão italiano, cria o próprio fermento, pinta um
quadro, faz máscara de proteção e por aí vai. O ódio criativo é essencial para manter a sanidade e sair com menos danos e mais pronto para mudar a sociedade, aliás o ódio criativo pode ser o combustível que precisamos para chegar ao final (crer que terá um final) e ainda ter fôlego para acreditar que é possível mudar o mundo.

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