A repressão do desejo pela normalidade perdida causa um desespero que conduz muitas pessoas ao afastamento da racionalidade científica e à aproximação a crenças e doutrinas que reforçam esse desejo. Por este caminho, muitas pessoas passam a negar a contingência da COVID-19 por meio de atitudes incompreensíveis aos olhos de sujeitos mais racionais.

Dentre esses comportamentos destacam-se aqueles por meio dos quais alguns indivíduos insistem em manter uma normalidade que não existe mais, passando a não usar máscaras quando indicado, não praticar o distanciamento social e chegando até mesmo a agir com hostilidade contra quem defende a proteção individual e coletiva neste momento de pandemia.

Afetados pela mesma angústia, alguns médicos passaram a prescrever tratamentos contra a COVID-19 sem base científica adequada, numa atitude desesperada de “tentar fazer qualquer coisa contra aquilo que faz com que se sintam impotentes e ameaçados em seu papel”. Até mesmo entre alguns cientistas temos visto atitudes não científicas.

Ainda que tais reações sejam naturais frente a algo percebido como traumático, precisamos envidar esforços pela racionalidade. O motivo é que a dimensão da dor deste momento poderá nos conduzir a uma postura potencialmente suicida como meio para aliviá-la, conduzindo-nos às citadas condutas que nos expõem ao risco de morte pela COVID-19. A despeito do sofrimento imposto por esta contingência, precisamos nos esforçar para pendular a balança a favor da ciência, e não das crenças ou das doutrinas, para não sucumbirmos emotivamente ao desespero do desejo reprimido.

Portanto, este é um momento em que precisamos colocar toda nossa força e toda nossa coragem em defesa daquilo que mais queremos preservar: a vida!

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Créditos da imagem: Dashu83 no Freepik

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Autor

  • Bernardino Geraldo Alves Souto

    Médico generalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Mestre em Medicina (Medicina Tropical) e Doutor em Medicina/Ciências da Saúde (Infectologia e Medicina Tropical) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-doutorado em Microbiologia e Infecção pela Universidade do Minho (Portugal).Também é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, em Clínica Médica/Medicina Interna pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e em Epidemiologia em Serviços de Saúde pela UFMG. Na Universidade Federal de São Carlos, é Professor Associado no Curso de Medicina, líder do Grupo de Pesquisa Clínica e Epidemiológica Aplicada em Ciências da Saúde e docente no Programa de Pós-graduação em Gestão da Clínica. Atua especialmente em medicina geral integral, epidemiologia, doenças infecciosas(HIV/AIDS), medicina intensiva, clínica médica, vigilância em saúde, infecção hospitalar, educação médica e gestão pública de saúde. Supervisor de equipe no grupo de Pesquisa Baseada em Bioinformática Integrando Evolução, Biologia e Medicina, do domínio de microbiologia e infecção do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Escola de Medicina da Universidade do Minho, em Braga, Portugal

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