No período de 23 a 31 de maio foi comemorada a Semana Mundial do Brincar. Neste ano, o cenário global nos colocou uma nova realidade e impôs novas reflexões sobre como ver o mundo diante da necessidade de ficar em casa e de se pensar como tudo vai ser depois que a pandemia passar.

Como as crianças continuam brincando (porque, afinal, o brincar é a ocupação central das crianças), gostaríamos de destacar o papel dos adultos nos cuidados do espaço doméstico para que elas brinquem com segurança e afeto.

Definindo o brincar

A importância do brincar para a criança é reconhecida e legalmente sustentada há tempos – a título de exemplo, temos documentos tais como a Declaração Universal dos Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ele contribui com as aprendizagens e o desenvolvimento infantis, promove diversão, entretenimento, alegria, autoestima e autoconfiança. Desta forma, o brincar assume papel fundamental na manutenção da estabilidade física e emocional das crianças (BOMTEMPO; ANTUNHA; OLIVEIRA, 2008).

Para Ferland (2006), por meio do brincar a criança experimenta o prazer e a descoberta, desenvolve o domínio da realidade e a criatividade e aprende a se expressar. Segundo a autora, o brincar é um processo espontâneo e natural; ao brincar, a criança busca a descoberta, a investigação, a escolha e a recriação. Brincar permite à criança desenvolver várias capacidades de adaptação e interação, que poderão ser transferidas para diversas situações no seu dia a dia.

O brincar e a família

Tendo em vista que o brincar é um facilitador de processos de desenvolvimento e causa impactos na criança, é preciso observar como isso acontece no contexto familiar.

O ambiente familiar é um dos primeiros espaços de socialização da criança e atua como um mediador de padrões e influências culturais. Nesse ambiente, é por meio do brincar que “a criança aprende a administrar e resolver os conflitos, a controlar as emoções, a expressar os diferentes sentimentos que constituem as relações interpessoais, a lidar com as diversidades e adversidades da vida” (WAGNER et al., 1999 apud OLIVEIRA, 2020, p. 27).

Desse modo, em qualquer situação, o espaço para o brincar deve ser protegido e promovido.

Brincar em tempos de pandemia

As medidas de contenção da pandemia da COVID-19 vêm afetando o cotidiano das famílias e, tão logo, o brincar. Contudo, mesmo durante a prática do distanciamento social, com toda a família em casa, vivenciar momentos de brincar pode ser uma grande oportunidade para novos aprendizados – tanto para crianças como para os pais. Isso porque a ocupação do brincar permite não só a construção das relações interpessoais e o processo de autoconhecimento, mas também o contato com a realidade e a interação com o mundo (PIERRI; KUDO, 1990 apud OLIVEIRA, 2020).

Foi relembrando a Semana Mundial do Brincar que buscamos, aqui, indicar ideias e materiais que podem servir como sugestões para as famílias nesse momento. Vale ressaltar que algumas organizações elaboraram conteúdos especiais para contribuir com a criação de ambientes que promovam o brincar em tempos de pandemia por COVID-19. A proposta é a de compartilhar possibilidades para que cada adulto que está junto de uma criança amplie seu repertório acerca do brincar e colabore com a saúde das crianças e de suas infâncias.

  • Guia de brincadeiras para famílias com crianças do nascimento aos 6 anos – A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (organização de promoção ao desenvolvimento de crianças em seus primeiros anos de vida) disponibilizou um guia com atividades lúdicas e brincadeiras voltadas para crianças de zero a seis anos em tempos de isolamento/restrição de contato social frente à pandemia por COVID-19.
  • Como sobreviver à quarentena com crianças em casa? – O grupo Pé no Chão – Espaço de Brincar, um grupo de especialistas em brincadeiras e desenvolvimento infantil, ofereceu o e-book “Como sobreviver à quarentena com crianças em casa?”. Para o grupo, este momento é o ideal para que colaboremos uns com os outros e compartilhemos informações e saberes. Mais detalhes podem ser conferidos, também, no Instagram do grupo. Contato: contato@penochaoespacodebrincar.com.br.

Para saber mais sobre a Semana Mundial do Brincar 2020, acesse o site Aliança pela Vida.

 

Referências

  1. BOMTEMPO, E.; ANTUNHA, E. G.; OLIVEIRA, V. B. Brincando na escola, no hospital, na rua. Rio de Janeiro: Wak, 2006.
  2. FERLAND, F. O modelo lúdico: o brincar, a criança com deficiência física e a terapia ocupacional. 3 ed. São Paulo: Roca, 2006.
  3. OLIVEIRA, D. H. Percepção de educadores e pais sobre as etapas de 24 a 36 meses do livro Ages and Stages Questionnaires-3 Actividades de Aprendizaje. 2020. 142 p. Dissertação (Mestrado em Terapia Ocupacional) – Programa de Pós-Graduação
    em Terapia Ocupacional, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/12863/Disserta%c3%a7%c3%a3o_daffini.pdf?sequence=2&isAllowed=y. Acesso em: 09 jun. 2020.

Bom proveito, boas brincadeiras!

Autoria de
Patrícia, Déborah e Monika

Créditos da imagem: Freepik no Freepik

Autor

  • Patricia Carla de Souza Della Barba

    Terapeuta Ocupacional, docente associada do Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) e do Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da UFSCar. Doutora em Educação Especial (UFSCar). Pós-Doutorado em Estudos da Criança (UMINHO, Portugal). Atua com os temas Desenvolvimento típico e atípico; Intervenção Precoce, Ocupações infantis; Atuação da Terapia Ocupacional na Atenção Integral à criança.

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