A pandemia de COVID-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), tem os problemas associados ao sistema respiratório como sintomas predominantes em seus infectados, afetando especialmente os pulmões. No entanto, tem-se percebido um crescente número de pacientes infectados pela doença que também apresentam manifestações no sistema nervoso. Esse sistema é formado por diversos órgãos que atuam na captação das mensagens e dos estímulos do ambiente, em especial o cérebro, e que permite que sejamos capazes de sentir e reagir a diferentes alterações que ocorrem ao nosso redor e até mesmo no interior do nosso corpo.

Em abril/2020 foi publicado o primeiro artigo que teve como objetivo principal estudar as manifestações neurológicas em pacientes com COVID-19, visto que muitos estudos estavam concentrando suas informações nos sinais e sintomas clínicos mais comuns, como febre, tosse seca e cansaço. Esse estudo inédito foi realizado no Hospital da Universidade de Ciência e Tecnologia de Wuhan, na China, epicentro inicial da pandemia, onde foram analisadas 214 pessoas hospitalizadas com a doença, entre homens (40,7%) e mulheres (59,3%), com média de idade de 52,7 anos (MAO et al, 2020).

O estudo se tornou grande referência e, a partir dele, diversos outros estudos passaram a focar seus esforços na observação da ocorrência de sintomas neurológicos em pacientes com COVID-19. É primordial conhecer as manifestações e as prováveis complicações neurológicas em pessoas infectados por esse novo vírus, uma vez que a deterioração clínica e a piora podem ser rápidas, especialmente em pacientes com o quadro grave da doença. É possível, ainda, que a ocorrência de um evento neurológico — como o AVC (Acidente Vascular Cerebral), por exemplo — em pacientes com COVID-19 contribua para uma taxa mais alta de mortalidade.

As principais manifestações neurológicas identificadas até o momento são:

  • Tontura;
  • Dor de cabeça;
  • Convulsão;
  • Diminuição da consciência;
  • Comprometimento do paladar;
  • Comprometimento do olfato;
  • Comprometimento da visão;
  • Incoordenação dos movimentos;
  • Dores musculares;
  • Doença cerebrovascular aguda (MAO et al, 2020; HELMS, 2020; AHMAD, 2020; VARATHARAJ et al, 2020).

Dentre os pacientes analisados nesse estudo chinês, 78 deles manifestaram alguns desses sinais e sintomas, sendo que 51% deles apresentavam quadro grave da doença e os demais 49%, quadro leve (MAO et al, 2020).

Os pacientes graves eram mais velhos e com mais comorbidades, que se caracteriza pela ocorrência de duas ou mais doenças ao mesmo tempo, especialmente hipertensão e diabetes. Esse grupo foi mais propenso a desenvolver doenças neurológicas com complicações, sendo que, em algumas pessoas, os sintomas neurológicos podem surgir antes dos sintomas respiratórios ou podem, até mesmo, não apresentarem sintomas clássicos de COVID-19. Em geral, percebeu-se que os pacientes graves apresentaram menos sintomas genéricos de coronavírus, como febre e tosse seca (MAO et al, 2020; HELMS, 2020; AHMAD, 2020).

Foi observado também que a maior parte das manifestações neurológicas ocorreu no início da doença (tempo médio de 1-2 dias), exceto em caso de ocorrência de doença cerebrovascular e de consciência prejudicada, ocorrendo em momentos mais avançados da COVID-19 (MAO et al, 2020).

No entanto, é de suma importância ressaltar que as pesquisas nesse campo ainda são muito incipientes e que esses achados se relacionaram à pacientes com COVID-19, ou seja, não houve, até o momento, estudos comprovando que o vírus ataca as células nervosas sendo o causador direto desses sintomas. Porém, é relevante que os resultados desses trabalhos sejam de conhecimento do público geral e de profissionais da saúde.

Em outro estudo, desta vez realizado no Reino Unido, 153 pacientes foram analisadas para se investigar as complicações neurológicas e neuropsiquiátricas que afetaram o cérebro. A média de idade dessas pessoas era de 71 anos e os eventos cerebrovasculares foram predominantes nos mais idosos, sendo observada a ocorrência de AVC e estado mental alterado, por exemplo (VARATHARAJ et al, 2020).

Além disso, os autores chamaram a atenção para alterações agudas no estado mental de pacientes mais jovens, alterações essas que se apresentaram de maneira acima do esperado. Esse tipo de alteração foi mais comumente percebido em pacientes admitidos no hospital em estado grave (VARATHARAJ et al, 2020).

Os autores ainda observaram que o alto índice de complicações cerebrovasculares, como acidente vascular cerebral, pode se refletir no estado de saúde dos vasos sanguíneos do cérebro, associados a fatores de risco e doenças prévias, os quais aumentam o estado crítico de pacientes graves e de idosos com COVID-19 (VARATHARAJ et al, 2020).

Todos os dias novos estudos são publicados e novas informações são compartilhadas. Hoje, sabe-se que as manifestações neurológicas não são incomuns em pacientes com COVID-19 e podem resultar em complicações sérias se não detectadas e tratadas precocemente.

Sendo assim, lembre-se de algumas medidas simples para evitar a COVID-19:

  • Lave com frequência as mãos até a altura dos punhos com água e sabão ou higienize com álcool gel 70%;
  • Evite tocar olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas;
  • Ao tossir ou espirrar, cubra nariz e boca com lenço ou com o braço, mas nunca com as mãos;
  • Mantenha distanciamento físico de cerca de 2 metros das demais pessoas;
  • Evite contato físico (abraços, beijos e apertos de mãos);
  • Ese máscaras caseiras ou artesanais feitas de algodão quando precisar sair de casa;
  • Se possível, fique em casa.

Caso você apresente sintomas como febre, tosse e, principalmente, falta de ar, procure um serviço de saúde.

Para mais informações acesse o site oficial sobre COVID-19 do Ministério da Saúde.

 

Referências Bibliográficas:

AHMAD I, RATHORE FA. Neurological manifestations and complications of COVID-19: A literature review J Clin Neurosci. 2020;77:8-12.

MAO L, JIN H, WANG M, HU Y, CHEN S, HE Q, et al. Neurologic Manifestations of Hospitalized Patients with Coronavirus Disease 2019 in Wuhan, China JAMA Neurology vol. 77issue 6(2020) pp: 683.

HELMS J., KREMER S., MERDJI H., et al. Neurologic features in severe SARS-CoV-2 infection N Engl J Med, 382 (2020), pp. 2268-2270.

VARATHARAJ A, THOMAS N, ELLUL MA, et al. Neurological and neuropsychiatric complications of COVID-19 in 153 patients: a UK-wide surveillance study Lancet Psychiatry. 2020 [published online ahead of print, 2020 Jun 25].

 

Autores:
Renata Postel Moreira
Leandro Cândido de Souza

Revisores:
Prof. Matheus Fernando Manzolli Ballestero
Prof. Francisco de Assis Carvalho do Vale

 

Créditos da imagem: Hainguyenrp no Pixabay

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Autor

  • Renata Postel Moreira

    Atualmente é graduanda em Medicina pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar (ingresso em 2019). Possui graduação em Análise de Sistemas pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo - FATEC-SP (2005); especialização em Gestão de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas - FGV-SP (2006); MBA em Auditoria Interna pela Fipecafi/USP (2009) e experiência profissional atuando em Compliance, majoritariamente, em Instituições Financeiras multinacionais. É vice-presidente da Liga de Neurologia e Diretora de Marketing da Liga de Pediatria (2021). Participa das ligas de Saúde Mental, Cuidados Paliativos e Infectologia. Já participou das Ligas de Genética Médica, Gerontologia e Hematologia. Faz Iniciações Científicas nos campos da Neurologia e da Educação em Genética Médica.

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