Autoria: Flávio Sanso

Descrição da obra: A obra procura externar o sentimento de perplexidade e incerteza sobre o desenrolar da pandemia.

Expressão: Literatura

 

Há tempo?

 

O tempo parou, dizem

Mas o tempo está na minha barba volumosa

Nos meus cabelos nunca tão crescidos

Na curva que não achata

Na linha que sobe inclinada

Foguete cruel movido a estatísticas mórbidas

Potencial para ser exponencial

Mas pode ser que o tempo tenha parado

Sem abraço, sem beijo, sem paz, sem contato

Talvez eu verseje sobre o campo minado lá fora

Sobre o silêncio e o medo

Sobre as embalagens encharcadas de desinfetante 

Ser ou não ser infecto, a agonia dos quinze dias sempre renováveis

A janela, à janela

Vou versejar sobre a amendoeira que dança em câmera lenta ao ritmo do vento

Sobre o sanhaço que cisca na antena parabólica  

Sobre a beleza indiferente do céu azulado, amarelado, arroxeado

Enquanto fico sem saber o que foi feito do tempo

Vou versejar sobre o que o tempo (ou a ausência dele) não alcança

Autor

Deixe um comentário