Por que falar de estimulação do desenvolvimento?

Nos últimos meses vivenciamos um processo de isolamento social devido a Pandemia da COVID-19, sofremos mudanças na forma de nos comportar e na nossa rotina, que foi comprometida e modificada em virtude da necessidade de adaptação. Nesse sentido, as crianças deixaram de frequentar a escola, espaços de lazer, de participar de atividades e de ter interação com outras crianças e parentes próximos da família, gerando uma série de sentimentos (LEE; FERREIRA e ZUIN, 2020).

Para a criança, a perda dos vínculos com seus pares da escola, professores e pessoas externas à família pode trazer consequências ao seu comportamento e muitas vezes um desequilíbrio nas aquisições dos marcos do desenvolvimento infantil. Esse ponto merece atenção e algumas famílias podem precisar de auxílio em como lidar com a estimulação das aquisições e habilidades, apontados para as faixas etárias. Saber isso ajuda a entender quais demandas aquela criança precisa e como ajudá-la de forma a prevenir atrasos no seu desenvolvimento. A estimulação nesse sentido pode estar ligada ao ambiente no qual a criança faz parte, que facilita a interação e o ganho de estímulos para a aprendizagem (BEE, H.; BOYD, D.; 2011).

Para ter um ambiente estimulado, não estamos falando de quantidades exageradas de recursos e brinquedos diversos, mas sim de qualidade. Uma criança em um ambiente com poucos recursos pode se sair bem, se aproveitar toda a estimulação disponível (BEE, H.; BOYD, D., 2011).

Nesse sentido pode-se dizer que a estimulação não está ligada ao objeto em si, mas sim em como ele é usado como recurso pelas famílias e profissionais. Além disso, não falamos de estimulação apenas relacionada ao atraso de desenvolvimento, mas também no seu uso para garantir que ele ocorra e se aperfeiçoe. Por isso a estimulação do desenvolvimento deve fazer parte da rotina da criança e pode acontecer a partir dela.

 

Design por Amanda Penetta

 

Qual a importância da rotina no momento atual?

Você já parou para pensar em como nós nos organizamos? A forma como nosso corpo se comporta ocorre de acordo com as delimitações de tempo que existem. É por meio da rotina que somos regulados no mundo, por isso é tão importante para uma criança que ela seja inserida nesse espaço por meio das rotinas. Além disso, a rotina exerce influência nos processos de regulação e desenvolvimento da criança que se iniciam dentro do contexto familiar e comunitário até o seu processo de adquirir autonomia.

É através do cotidiano que as oportunidades de aprendizagem e domínio de habilidades são adquiridas na infância. Sendo assim, a rotina entra como um importante fator de regulação e sustentação das ações da criança no mundo (LEE; FERREIRA; ZUIN, 2020, p. 74).

Nesse sentido, a rotina é capaz de trazer uma certa previsibilidade que acalma e garante o que pode vir depois. Desta forma a criança se torna mais colaborativa, menos ansiosa e o cuidador começa a entender o que esperar da criança em cada momento (LOPES, 2018 apud LEE; FERREIRA; ZUIN, p. 74, 2020).

É por isso que a rotina é tão importante no dia a dia da criança, porque ela é responsável pela possibilidade de aquisição de habilidades por meio das atividades que a cercam. Diante de um evento tão desestabilizador para todos como a pandemia da COVID-19, é importante trazer algo de concreto e estabilizador à criança, e a estimulação do desenvolvimento contextualizada à rotina da família pode ser um ponto centralizador e de equilíbrio.

 

Design por Ana Paula de Lima

 

Por que falamos de estimulação por meio das rotinas?

Autores tem defendido a importância da aprendizagem por meio dos contextos naturais. Quando crianças e adolescentes participam ativamente com os adultos em casa, fazendo atividades que são naturais no ritmo familiar, tendo algumas responsabilidades, é possível que desenvolvam autonomia, vínculos e se divirtam também  (BRUGNARO et al., 2020).

Quando falamos em estimulação do desenvolvimento por meio das rotinas, podemos dizer que o incentivo da realização de atividades junto aos pais podem ser um fator de aquisição de habilidades. Como por exemplo, estimular a criança a arrumar sua cama todos os dias, ou mesmo ajudar no preparo de alimentos, organizar seus pertences, ter um horário de estudo e de lazer, estimular brincadeiras variadas, etc pode estimular diversos componentes e habilidades diversas integrados ao desenvolvimento físico, cognitivo, de linguagem, socioemocional que a ajudaria a criança a perceber o seu ambiente.

Durante esse período da pandemia, vários materiais foram produzidos com a finalidade de auxiliar os pais e familiares a pensarem e ter ideias sobre atividades que estimulam o desenvolvimento global das crianças, com recursos que são acessíveis em casa.

 

Selecionamos algumas cartilhas e sugestões de atividades produzidos por pesquisadores e instituições, a seguir:

Atividades para Familiares Realizarem com os Filhos em Casa

O material foi elaborado pela professora Mirela de Oliveira Figueiredo, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar em parceira com a professora Ana Luiza Allegretti, de Occupational therapy Department, University of Texas, em virtude da atual pandemia da doença infectocontagiosa causada pelo corona vírus (Covid-19). Portanto, levando em conta a diretriz do isolamento social, o material foi formulado pensando em como permanecer em casa pode também ser favorável ao desenvolvimento físico, cognitivo e emocional de bebês e crianças de 0 a 5 anos. O guia fornece sugestões de atividades, de caráter lúdico e também pedagógico, que os familiares podem realizar com os filhos em casa para possibilitar a continuidade da estimulação e aprendizagem que as crianças estavam recebendo nos centros infantis, creches ou escolas. As atividades por envolverem as crianças e seus respectivos familiares podem favorecer o fortalecimento do vínculo e do entendimento, por meio de um clima de brincadeira, alegria e prazer. Pode ser encontrado em aqui.

Manual dos Pais Atividades para crianças até 3 anos de idade

Produzido por: Caribbean Institute for Health Research, The University of the West Indies, Kingston, Jamaica

Este manual fornece conteúdo que pode ser compartilhado com os pais no apoio a interações lúdicas para crianças de 0 a 36 meses. O manual foi desenvolvido em resposta à pandemia de Covid-19 e à suspensão de muitos programas que envolviam visitas domiciliares ou grupos de pais. Ademais, não exige que os pais tenham participado anteriormente desses programas e pode ser usado em outras situações, quando a oferta tradicional de programas de parentalidade não for possível. As atividades requerem poucos materiais e, quando necessários, estes são de simples confecção e usam itens que os pais costumam ter em casa. O conteúdo é fornecido em faixas etárias de três meses. Para cada grupo de três meses, são escolhidas seis atividades lúdicas e seis de linguagem.

O conteúdo inclui uma seleção de atividades lúdicas e de linguagem do programa Reach Up. Pode ser encontrado aqui.

Minimizando o efeito do isolamento social de crianças com deficiência motora: como estimular seu filho na participação das atividades diárias.

Elaborado por um grupo de estudantes e docentes dos cursos de Terapia Ocupacional e Fisioterapia da UFSCar (Beatriz Helena Brugnaro, Mariana Grecco Faro, Profa. Dra. Ana Carolina de Campos, Profa. Dra. Luzia Iara Pfeifer, Profa. Dra. Nelci Adriana Cicuto Ferreira Rocha), este é um guia com orientações sobre como estimular atividades e participação em casa, de crianças/adolescentes com deficiência, a fim de desenvolver habilidades para autonomia e se divertir. Pode ser encontrado aqui.

 

Referências:

BEE, H; BOYD, D. Questões básicas no estudo do desenvolvimento. In: A criança em desenvolvimento. Local: Porto Alegre, Editora ARTMED, 2011. p. 25-53.

LEE, D, A; FERREIRA, K,C; ZUIN, P, B. A Língua Brasileira de Sinais (LIbras), a Terapia Ocupacional e os Sentimentos nas Interações Escola-Família em tempos de Isolamento Social. In: Acolhimento na educação infantil em tempos de pandemia da COVID-19. Local: São Carlos. Editora Pedro e João, 2020. p. 69-89.

BRUGNARO, B, H, et al., Cartilha Minimizando o efeito do isolamento social de crianças com deficiência motora: como estimular seu filho na participação das atividades diárias. p.1-32.

 

Autoria:
Deborah Carvalho Cavalcante
Ketlin Cristina Ferreira
Monika Wernet
Patrícia Carla de Souza Della Barba

Créditos da imagem: Pragyan Bezbaruah no Pexels

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Autor

  • Patricia Carla de Souza Della Barba

    Terapeuta Ocupacional, docente associada do Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) e do Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da UFSCar. Doutora em Educação Especial (UFSCar). Pós-Doutorado em Estudos da Criança (UMINHO, Portugal). Atua com os temas Desenvolvimento típico e atípico; Intervenção Precoce, Ocupações infantis; Atuação da Terapia Ocupacional na Atenção Integral à criança.

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