Autoria: Alvaro Santi
Descrição da obra: Na ausência da amada, o poeta lamenta não ter aproveitado o tempo em que podia conviver com ela, e promete que o fará no futuro, se tiver oportunidade
Expressão: Literatura
Espera n° 5 Me encontro na quarentena, mas o acaso me deixou - Ai, pena maior das penas! - distante do meu amor. Longe dela, quantas vezes antes estive, entretanto, sem que eu mesmo compreendesse o que me estava faltando? Quantos e quantos momentos eu deixei passar em branco; convicto de estar vivendo, não via o tempo escoando. Por cem obscuras razões, eu dava as costas à vida, postergava meus amores, distraído com a poesia. Com ela não fui à praia, por vergonha do meu corpo; bailes também evitava, pois bailar sei muito pouco. Buscava, em vistosas telas, imagens que consolavam, enredos vãos de novelas cheios de esperanças falsas. Foi necessária a tragédia, maior de todas desgraças, pra entender quão rico eu era do que não valorizava. Quando venha a Primavera, e se acabe tudo isso, - eu já prometi a ela - será como um novo início. Viveremos como amantes, num lugar sem endereço, na cordilheira dos Andes. (Nosso pequeno segredo) Em silencioso veleiro, percorreremos o mundo, no rumo dos quatro ventos, sempre e cada vez mais juntos. (Outras coisas mais eu quis prometer, loucas ou ternas, que não vou dizer aqui, somente na hora certa.) Dando asas ao desejo e contando cada dia, chego a esquecer que estou preso. Quando acabe a pandemia, quer seja tarde ou mais cedo, dela serei, e ela minha.