A epidemia causada pela COVID-19 no Brasil já se alastra há meses e preocupa não só os profissionais de saúde e autoridades sanitárias, mas também toda a população, a qual é afetada direta ou indiretamente pela doença. Atualmente, observa-se uma flexibilização do isolamento social no país, com a reabertura de comércio, serviços não essenciais, retorno das partidas de futebol e propostas para retomar as atividades escolares em alguns estados. Essas medidas são desaconselhadas na atual situação epidemiológica que enfrentamos, em que a taxa de contágio ainda é elevada, pois favorece a transmissão do novo coronavírus.

Neste contexto, equipe do InformaSUS convidou o médico Bernardino Geraldo Alves Souto, epidemiologista e integrante do Comitê de Controle do Coronavírus da UFSCar e Rodrigo Stabeli, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor de medicina da UFSCar, para discutirem sobre o controle da COVID-19 e os planos de reabertura. A conversa sobre o tema ocorreu ao vivo no dia 16 de julho de 2020 no canal do InformaSUS no YouTube.

Como o conteúdo abordado é alvo de muitas dúvidas, algumas questões não foram debatidas ao longo da live, mas foram respondidas em entrevista pelos especialistas convidados.

O modelo de controle da epidemia pelo novo coronavírus adotado pelo governo brasileiro sofre algumas críticas, uma vez que as curvas de contaminados e mortos pela doença continua ascendendo. A alternativa proposta pelo epidemiologista Bernardino Souto para o combate à COVID-19 consiste na qualificação da Vigilância Epidemiológica e da Atenção Básica de Saúde. Sendo assim, como o poder público de Ribeirão Preto e de São Carlos estão recebendo estas propostas. Há resistências?

Em São Carlos, estamos aguardando o agendamento de uma reunião já solicitada com a Secretaria Municipal da Saúde para tratar da qualificação da vigilância epidemiológica e da atenção básica de saúde, com o objetivo de tornar esses equipamentos eficientes e eficazes em bloquear surtos focais da COVID-19 in loco. Também fizemos o mesmo pedido a dois vereadores da cidade para agendarem com a Câmara Municipal e estamos aguardando o retorno.

Com a Diretoria Regional de Saúde de Araraquara, já está agendada para o dia 21 de julho uma reunião em que foram convidados os 24 municípios para discussão da Proposta.

Em Ribeirão Preto, a secretaria municipal tem trabalhado com a Fiocruz e pretende iniciar conversa de implantação da proposta. No momento trabalha em medidas mais rígidas de distanciamento físico para abaixar o índice de infecção na cidade e região.

A infecção pelo novo coronavírus pode apresentar-se de diversas maneiras, desde formas agressivas da doença, com danos à diversos órgãos, até a ausência de sintomas. Esses pacientes assintomáticos podem transmitir o vírus?

Segundo a literatura, até 86% das pessoas que contraem o vírus causador da COVID-19 podem permanecer assintomáticas, porém, potencialmente transmissora. Essas pessoas, provavelmente começam a transmitir o vírus a partir do final da primeira semana de infecção, mas transmitem com menor intensidade e por tempo mais prolongado do que uma pessoa sintomática. Ou seja, sintomáticos transmitem com mais intensidade e por menos tempo do que assintomáticos, exceto em doentes que evoluem com a forma grave da doença; estes transmitem com mais intensidade e por mais tempo. Também há relatos na literatura sugerindo que os assintomáticos produzem menor quantidade de anticorpos.

Os números divulgados de contaminados pela COVID-19 no Brasil são alarmantes, entretanto, há muitos casos que não são notificados. Nesse contexto, como está a taxa de subnotificação no país para a infecção pelo novo coronavírus?

A subnotificação epidemiológica é um problema crônico no Brasil que se agudiza em casos de epidemias do tipo da COVID-19. Vários são os fatores que colaboram para isso, desde a sobrecarga e infraestrutura prejudicada do sistema de saúde até a ocorrência de casos que não procuram assistência médica e, portanto, não aparecem para serem notificados; entre outros motivos.

No caso da COVID-19, estudos apontam que a subnotificação no Brasil é variável a depender do lugar (lugares em que o sistema de saúde é mais desenvolvido notifica mais e melhor), podendo ir de 80% a 93% segundo alguns relatos. Isso significa que só aparecem nas estatísticas nacionais em torno de 10% do total de pessoas infectadas. Número de óbitos costuma ser melhor notificado porque a própria gravidade da condição a destaca ao ponto de ser fazê-la aparecer. Entretanto, estima-se que possa haver até 50% de subnotificação de óbitos por COVID-19 no Brasil.

Qual a importância do teste PCR dos contactantes assintomáticos em pessoas testadas positivo para COVID-19?

Entre os contactantes assintomáticos, provavelmente há alguém que tenha transmitido para a pessoa diagnosticada e alguém que tenha se contaminado com ela. Nas duas condições, têm-se um transmissor em potencial que, se for identificado por PCR, é posto em isolamento também para que a transmissão seja interrompida. Se a cada caso positivo de COVID-19 identificado por PCR, sintomático ou não, for feito este rastreamento dos contactantes e isolamento dos positivos, aumenta muito a possibilidade de se bloquear a cadeia de transmissão da doença. A consequência seria a redução do número de novos casos e de mortes na comunidade.

Existe a possibilidade de não haver aulas presenciais em 2021?

Sim, existe. Estamos trabalhando com a expectativa de poder controlar a COVID-19 até o final deste ano de modo a tentar a reabertura das atividades escolares em 2021. Entretanto, o cenário ainda é de muita imprevisibilidade devido ao fato de não haver nenhuma política pública nacional efetivamente destinada ao controle da pandemia.

Se você não pode acompanhar a conversa ao vivo, a live continua disponível no Canal do InformaSUS no YouTube:

Crédito da imagem: Tumisu por Pixabay

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Autor

  • Gabriele Vitória Gerciano Machado

    Graduanda do segundo ano de medicina na Universidade Federal de São Carlos. Como voluntária realizou atividades de ensino e recreação para crianças residentes no município de São Carlos (2013-2019). Membro das Ligas de Especialidades Pediátricas e Urgências Traumáticas e Clínicas na UFSCar. Áreas de interesse: ciências médicas e pedagogia.

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