A apresentação de dificuldades para realizar atividades em sua vida cotidiana costuma ser um dos primeiros sinais que caracterizam o diagnóstico da Doença de Alzheimer. Estas dificuldades decorrem das alterações cognitivas já apresentadas e manifestadas, por exemplo, com a perda de memória, que costuma ser um dos primeiros sintomas. Contudo, com o passar do tempo, observa-se que o processamento das etapas para a realização atividades cotidianas torna-se mais difícil.
Sabe-se que o Cuidado Integral, que pode ser ofertado por diferentes profissionais de saúde, contribui para manter esta pessoa mais ativa e participativa na vida em sociedade por tempos maiores. Assim, é essencial que o cuidado envolva terapeutas ocupacionais, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudiólogos, gerontólogos etc, além claro, do médico. Se você quiser saber mais sobre a evolução da Doença de Alzheimer, seu diagnóstico e acompanhamento médico, clique aqui.
O que ocorre é que, por desconhecimento, muitas vezes, paciente e família restringem-se ao acompanhamento médico, o que acaba por determinar aceleração do curso da doença, que pode ter uma evolução mais rápida da fase 1 (inicial) para a fase 4 (mais grave), devido à falta de fornecimento de estímulos e cuidados para manutenção da capacidade em fazer tarefas diárias de modo independente, o que chamamos de capacidade funcional.
No cenário ideal, os serviços de saúde que atendem portadores de DA deveriam ser compostos por equipe multiprofissionais. Existem serviços de saúde no SUS (como os centros de reabilitação e profissionais da atenção primária) que possuem equipes formadas por médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, etc. habilitados para tratar pessoas com DA. Estes profissionais também podem ser acessados por meio de plano privado de saúde e clínicas particulares.

Caso você ou seu familiar não tenha sido encaminhado para o acompanhamento em equipe, o pedido pode vir do próprio familiar e cuidador da pessoa com DA, além dela própria em fases iniciais. Os serviços de saúde possuem fluxos próprios, mas isso não tira o direito ao atendimento a profissionais que não sejam exclusivamente médicos.
As discussões do caso entre os diferentes profissionais que acompanham a pessoa com DA e sua família permite que as condutas sejam alinhadas e otimizadas, assim, os resultados do acompanhamento multiprofissional é otimizado.
Abordaremos a atuação de profissionais junto a pessoas com doença de Alzheimer e quando trabalham de modo articulado, garantem um Cuidado Integral. Hoje apresentaremos o trabalho da terapia ocupacional e assistência social, e amanhã da fisioterapia e da psicologia, que pode ser acessado clicando aqui.
Terapia Ocupacional
Ao interferir na capacidade cognitiva, em especial na memória e orientação espaço temporal (fases iniciais) a DA acaba por roubar o protagonismo da pessoa em poder continuar a ser dono de sua própria história. Ao deixar de reconhecer as pessoas de seu convívio, o paciente também deixa de ser reconhecido como sujeito de direitos e com autonomia.
O tratamento em Terapia Ocupacional tem por objetivo auxiliar a pessoa com DA a continuar a construir sua história neste mundo (historicidade), buscando por novas formas de criar comunicação e pertencimento, mesmo que com limitações cognitivas.
Assim, Terapeutas Ocupacionais não direcionam seu tratamento para a DA, mas para a repercussão que esta doença traz para a vida cotidiana dos sujeitos e suas famílias, mais especificamente, para o modo como ela interfere na sua independência e autonomia, dificultando sua participação na vida social. Assim, o cuidado na DA prestado pela terapia ocupacional se direciona ao paciente e sua família.
Avaliação
O terapeuta ocupacional é o profissional capaz de analisar de que modo a realização de atividades está prejudicada, quais são as atividades importantes para a pessoa e a partir daí desenvolve um plano de tratamento que será empregado nas diferentes fases da DA. Como já descrito, a DA compromete diferentes componentes cognitivos, emocionais, físicos e sociais, e além destes, será preciso considerar a história de vida da pessoa com DA, seu nível de independência e autonomia, o ambiente físico onde ela vive, os locais que costuma frequentar e com quem esta pessoa se relaciona e como está a qualidade destas relações.
Um dos aspectos cruciais a serem cuidados é a compreensão que a família e paciente fazem do diagnóstico, pois, esta interfere diretamente na forma de cuidado prestado a pessoa com DA.
Tratamento
As ações de cuidado dependerão de qual fase de evolução da doença a pessoa com DA está no momento da primeira avaliação pelo terapeuta ocupacional, bem como de qual é a rede de suporte com a qual esta pessoa pode contar. E também de qual orientação teórica que o terapeuta é especializado.
Ao fazer atividades durante os atendimentos, o terapeuta ocupacional avalia quais são as potencialidades e habilidades do sujeito, e as adapta e gradua conforme a necessidade da pessoa, tornando o fazer possível e devolvendo a pessoa o senso de capacidade.
O terapeuta ocupacional também atua junto com a família, a envolvendo em alguns momentos em atendimentos, ou orientando e auxiliando na organização de como as atividades poderão ser feitas em casa.
É importante que a família mantenha a pessoa participante em atividades cotidianas. Não se deve deixar a pessoa restrita a um único ambiente, contida e privada de fazer atividades, mesmo em estágios mais avançados da DA. A simplificação de atividades orientada pelo terapeuta ocupacional ajudará a família a estar mais próxima da pessoa com DA de um modo mais saudável e afetivo.
Os sintomas psicológicos e comportamentais – SPC geram maior sobrecarga e adoecimento aos cuidadores da DA, que, quando são familiares já precisam lidar com a perda da convivência com a pessoa como ela era antes do diagnóstico da DA.

Ao permitirem que seja criada uma rotina diária com realização de atividades diversas, que vão além das de autocuidado (banho, alimentação, etc), mas incluem atividades de lazer e de estimulação cognitiva, por exemplo, terapeutas ocupacionais contribuem para a redução da ocorrência destes sintomas, além de ajudarem as famílias a identificar fatores que os provocam e aprenderem a lidar com os mesmos.
Podem ser ofertados atendimentos individuais, grupais e com famílias e a frequência de atendimentos precisa ser adequada à necessidade da pessoa e família.
Terapia Ocupacional e Reabilitação Neuropsicológica
Reabilitação neuropsicológica é um processo ativo que visa capacitar pessoas com déficits cognitivos causados por lesões encefálicas adquiridas ou por transtornos do desenvolvimento, no caso os psiquiátricos, para que estes adquiram um nível satisfatório de funcionamento social, físico e psíquico (Wilson, 2005).
Considerando-se que a Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva, que provoca danos cerebrais e consequentemente déficits em funções cognitivas, acarreta em prejuízos no funcionamento da vida cotidiana dessa pessoa. Porém, comprovações científicas apontam que a soma do tratamento farmacológico, reabilitação neuropsicológica e suporte familiar são capazes de promover a manutenção de sua funcionalidade.
A reabilitação neuropsicológica tem por propósito único e maior a capacitação do indivíduo para a realização das atividades que lhes são significativas de maneira mais independente possível, com maior autonomia, ao longo dos estágios da doença.
O foco do trabalho não é melhorar a memória, mas reabilitar a pessoa e não os processos cognitivos, entendendo os aspectos emocionais, sociais, familiares, ocupacionais, ambientais, motivacionais. Um ambiente adaptado somado a utilização de estratégias compensatórias externas, permite que a pessoa continue atuando nele, apesar de um comprometimento de memória.
Diante da queixa do idoso e/ou de seu familiar, considerando-se o desempenho nas atividades cotidianas e os contextos que ocorrem, o grau de importância de cada uma delas, o terapeuta ocupacional estabelece o plano terapêutico que contempla o treino de funções cognitivas consideradas primordiais para a execução de determinadas tarefas, a compensação de funções deficitárias, adaptações ambientais e orientação familiar, utilizando-se de intervenções práticas e contextualizadas para capacitá-lo a funcionar (física, psicológica e socialmente) melhor em áreas importantes de sua vida. O treino cognitivo só faz sentido se for generalizado para seu ambiente.
Toda a proposta baseia-se na manutenção de atividades que lhes sejam prazerosas, significativas, motivadoras e de seu interesse, condizentes com seu nível de escolaridade, seu contexto sociocultural, seus hábitos, suas crenças, suas ocupações ao longo da vida e seu perfil cognitivo. Ao olhar o idoso em sua integralidade, o terapeuta ocupacional traça o plano terapêutico visando a funcionalidade nos diferentes contextos que vive, considerando as funções cognitivas e os comportamentos necessários para a realização das tarefas importantes para sua vida, em quais momentos são requisitadas, como podem ser melhor aproveitadas/exploradas para serem realizadas com menos dependência.
O plano terapêutico é traçado considerando-se a pessoa, sua família e pessoas do ambiente que vive. As técnicas utilizadas para reabilitar ou compensar funções deficitárias são baseadas nas demandas das atividades desempenhadas em seu contexto. Como exemplo pode-se utilizar de um treino cognitivo de memória, com utilização de estratégias mnemônicas para a pessoa lembrar nomes dos amigos que convive socialmente, ou ainda para a idosa lembrar os ingredientes de uma receita que costuma preparar para a família.
O objetivo primordial desse trabalho é a manutenção de sua funcionalidade pelo maior tempo possível, considerando-se sua qualidade de vida e a dos que convivem com ele.

Serviço Social
O assistente social no processo de cuidado à pessoa com doença de Alzheimer e sua rede familiar visa garantir o atendimento de suas necessidades sociais e de saúde, o acesso à qualidade de vida, viabilizando os direitos previstos em legislações específicas. Destaca-se aqui o Estatuto do Idoso e a inserção da doença de Alzheimer no âmbito do SUS, garantindo, por exemplo, a medicação para o tratamento de forma gratuita e universal.
A intervenção desse profissional também busca articular e integrar a rede de serviços socioassistenciais e de saúde, promovendo o atendimento aos idosos e suas famílias, que necessitam de orientações e auxílios, na medida em que o cuidado da pessoa com Alzheimer pode se tornar desgastante e levar o próprio cuidador a adoecer.
Desse modo, o assistente social trabalhará sempre na vertente de ampliação da cidadania, no fortalecimento familiar e da rede de apoio, inserindo o usuário nesse processo – sempre que possível, de modo a favorecer a convivência familiar e comunitária.

Autoras:
Ana Claudia T. de Barros, terapeuta ocupacional coordenadora da ABRAz São Carlos
Claudia Aline Valente Santos, docente curso de Terapia Ocupacional UFSCar
Elizabeth Barham, Docente do Curso de Psicologia UFSCar
Juliana Morais Menegussi, Assistente Social da Unidade Saúde Escola da UFSCar
Nathália Sigilló Cardoso, fisioterapeuta e doutoranda em Saúde pública pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Nicole Akemi Yamada, Estudante de Psicologia UFSCar
Tais Francine De Rezende, Psicóloga – Criadora do Canal FelizIdade no Youtube
João Pedro de Barros Fernandes Gaion, Estudante de Medicina
Francisco de Assis Carvalho do Vale, Médico Neurologista
Matheus Fernando Manzolli Ballestero, Médico Neurocirurgião
Referências:
BENETTON, Maria José. A Terapia Ocupacional como instrumento nas ações em Saúde Mental. 1994. Universidade Estadual de Campinas, [S. l.], 1994.
Loschiavo Alvares, F.Q. O modelo abrangente de reabilitação neuropsicológica para os transtornos psiquiátricos. In Loschiavo Alvares, F.Q. e Wilson, B. Reabilitação Neuropsicológica nos transtornos psiquiátricos: da teoria à prática. Belo Horizonte: Artesã Editora, 2020.
NOVELLI, Marcia Maria Pires Camargo; LIMA, Gabriela Balestra De; CANTATORE, Lais; SENA, Barbara Pereira De; MACHADO, Styfany Correa Batista; D ELIA, Camyla Izys Baptista Rodrigues; MENDES, Renata Souza; GITLIN, Laura Nan. Adaptação transcultural do Tailored Activity Program (TAP) ao português do Brasil. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, [S. l.], v. 26, n. 1, p. 5–15, 2018. DOI: 10.4322/2526-8910.ctoao0851.
VALENTE, Maria das Graças Ferreira; ARAUJO DE CARVALHO, Claudia Reinoso. Occupational therapy and gerontology: an analysis of scientific production in South America. MOJ Gerontology & Geriatrics, [S. l.], v. 4, n. 5, p. 190–191, 2019. DOI: 10.15406/mojgg.2019.04.00205.
Wilson, B. e Gracey, F. Para um modelo holístico de reabilitação neuropsicológica. In Reabilitação Neuropsicológica: teoria, modelos, terapia e eficácia. Belo Horizonte: Artesã Editora, 2020.
Crédito da imagem: Rawpixel
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