Autoria: Nilza Menezes dos Santos.
Descrição da obra: O poema reflete sobre o sentimento de impotência do indivíduo tendo que se isolar devido a pandemia, em um mundo em que o isolamento já ocorre na forma de segregações sociais, raciais, regionais e políticas. E reflete, por outro lado, o papel de resistência da arte que, assim como outras atividades, como o esporte, o trabalho, o cuidado com o outro, com o meio ambiente e com a vida, são fortalecedores e essenciais.
Expressão: Literatura.
DIAMANTES ESQUECIDOS
Só, na sala, na metrópole do mundo, na multidão,
Refletia no destino, no desatino da minha espécie.
Vidraças de edifícios cristalizavam gotículas da peste;
Reproduzia-se o medo, na concreta vastidão.
E, como um bicho que o habitat já não reconhece,
Senti o horror ao ver passarem, diante de mim,
A procissão dos males que o mundo padece.
Porém na margem do caminho, uma bela imortal –
A Arte – oferecia a quem quisesse Dourado cálice
De néctar transbordante. Sedento, o poeta corre
A beber da divina fonte.
Inebriado pelo vinho amargo e suave da História,
O poeta, como o cientista, reescreve a realidade,
Tintas caóticas de harmonia, no papiro da imortalidade…
Ofício de dor, dizer. Dizer que, atravessando a guerra
Contra o insidioso e invisível, muitos caíram por terra.
Sobrevivente, testemunho, e escrevo; os olhos ardem;
Mas agarro-me à vida, viver é uma ordem!
Prossigo, e vejo os outros; são muitos de mim;
Atordoados, seguram firme a mão da esperança.
Caminham, e caminho com eles. É preciso seguir,
E consertar o mundo.
Deixar de presente, para o futuro, diamantes esquecidos,
Restituídos ao rol do que realmente importa:
Corpos brindando à vida, chuva caindo na horta;
Pipas dançando ao vento, passeio na manhã de sol quente…
Viver. Suportar o peso do mundo
Com a força de uma criança. Viver! Pois no fim,
O saldo positivíssimo de tudo foi a experiência,
A trajetória humana e divina da existência…