Autoria: Graziela Tosta Barros de Carvalho
Descrição da obra: A obra trata da capacidade de ser resiliente e usar da criatividade para superar as ansiedades e dores de viver em tempos difíceis, como nesta situação de pandemia que vivemos hoje.
Expressão: Literatura
Crônica dos novos dias
Digo logo a você leitor: caso prossiga com a leitura deste texto, já aviso que ele faz parte da minha forma de resiliência e criatividade que estes novos tempos exigiram de mim (e, provavelmente, de muitas outras pessoas e instituições também). Não posso dizer que surgiu algo bom da COVID-19 — visto que esse vírus causou e causa muito sofrimento a todos, mas teve algo positivo na pandemia. Reconheço que as medidas de prevenção decorrentes dessa doença e as mudanças na rotina fizeram com que eu me movesse internamente e fosse capaz de me reinventar. De resgatar aquela disposição de criar, típica da minha adolescência. De recorrer ao mais profundo e exclusivo da existência humana: a capacidade de fazer arte.
No começo, senti-me em um estado de luto. O processo de enlutamento, como sabemos pela psicologia, de acordo com Elisabeth Kubler-Ross, passa por cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Creio que passei por quase todas. A negação da nova realidade manifestou-se pela ilusão de que tudo aquilo passaria rápido. No início, quarenta dias pareciam muito, depois foram estendidos a vários meses. A raiva foi derivada do desconforto de ter-me sido retirada de minha rotina, de precisar cancelar todas as minhas expectativas para aquele novo ano que se iniciava, de lidar com a privação dos relacionamentos com meus amigos. A depressão, sentimento a mim mais familiar, foi claramente perceptível pelas crises de choro, principalmente quando anunciado o cancelamento das aulas na universidade.
Por fim, a aceitação. Decorrente do processo de compreensão de que não sabia quanto tempo tudo aquilo iria durar e mesmo assim estava tudo bem. Teria paciência no meu anseio pelo retorno dos nossos modos antigos de interação face a face, dos abraços e dos sorrisos fora das máscaras.
Enquanto aguardo esse retorno tão esperado, aqui estou: diante da tela em branco, digitando essas palavras que espero chegarem até pessoas com as mais diversas histórias de vida. Deve estar pensando, leitor, que esta crônica mais se parece com um relato pessoal. É verdade. Devido a isso, afirmo: foi o que me veio à mente. Espero possuir essa liberdade artística. Portanto, que esta “crônica” dos novos dias possa inspirar ao menos uma pessoa, pois, por mais difícil a situação, talvez sempre exista uma saída, mesmo que nós mesmo tenhamos de construir esse túnel para encontrarmos novamente a luz do sol. Para este meu túnel, escolhi construí-lo cheio de palavras. Assim, ainda consigo sentir os raios iluminando minha pele, quase como um abraço da vida, dizendo-me para prosseguir, acalmando esse meu coração ansioso.