A demência é caracterizada por um conjunto de sintomas que podem incluir perda de memória, dificuldades de raciocínio, de resolução de problemas e de linguagem. Apesar da conotação negativa que às vezes possa ter, “demência” é um termo técnico da área da saúde usado para se referir aos transtornos neurocognitivos maiores, em que há o declínio das funções mentais, como, por exemplo, a doença de Alzheimer. O impacto no cotidiano, como esquecer as coisas e não conseguir fazer atividades como tomar banho ou ir às compras, bem como mudanças de comportamento, como agressão e depressão, podem dificultar o enfrentamento da doença. 

Hoje, em torno de 50 milhões de pessoas apresentam um quadro de demência em todo o mundo e estima-se que, até o ano de 2050, esse número triplicará. No Brasil, acredita-se que quase 2 milhões de pessoas têm demências, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de também afetar jovens, a demência afeta principalmente pessoas com mais de 60 anos. As pessoas com demência são cuidadas principalmente por familiares, amigos e vizinhos, os chamados “cuidadores”.

Em sentido mais amplo, a demência não afeta somente o indivíduo diagnosticado, mas também seus familiares, amigos e todos aqueles que possuem alguma relação com ele. A adaptação a um novo tipo de relacionamento, em constante e progressiva mudança, se faz necessária, bem como a sucessiva melhoria nas formas de se comunicar e no fornecimento de suporte ao paciente afetado pela doença. 

Até o momento, acredita-se que ser portador de demência, por si só, não se relaciona com as manifestações e agravos de COVID-19. Precisamos estar atentos, no entanto, para os comportamentos comuns de uma pessoa com demência, como sua falta de memória, a qual, somada à sua idade avançada, pode aumentar o risco de a pessoa se infectar pelo novo coronavírus. 

É imprescindível também que cuidadores e familiares fiquem vigilantes a certos comportamentos, sinais e sintomas apresentados por aqueles que vivem com demência. Os principais sintomas causados pelo coronavírus e por outras infecções virais comuns são apresentados na tabela abaixo:

 

Dentre esses sintomas, atente-se para os seguintes sinais de alerta

  • Dificuldade para respirar/Desconforto respiratório: A insuficiência respiratória é um dos sintomas mais bem descritos em COVID-19 e é causa importante de internações e de mortalidade. Maior esforço para respirar, acompanhado de desconforto, ofegação ou a presença de coloração azulada, principalmente nos lábios e sob as unhas, é um sinal de alerta para possível insuficiência respiratória;
  • Febre alta ou persistente: Comum a várias doenças, como a gripe e a dengue, a presença de febre alta ou de grande duração é um sinal de resposta à infecção, e pode causar danos (alguns irreversíveis) à saúde do indivíduo. Vale ressaltar que nem todos os idosos apresentam febre em um quadro infeccioso, como ocorre comumente com os mais jovens;
  • Hipotermia: Aparente principalmente em idosos, a diminuição da temperatura corporal é um sinal importante de agravamento da saúde;
  • Perda de apetite, diarreia ou vômitos: Essas manifestações são importantes para um possível quadro de desidratação e desnutrição, que podem causar rápida piora da saúde do paciente. A perda de apetite também pode estar associada à perda de paladar/olfato, sintomas esses que podem ocorrer em pessoas infectadas por COVID-19.

Além disso, há sinais que talvez se confundam com manifestações que podem ocorrer nas demências, principalmente em idosos, mas que podem indicar a necessidade de uma avaliação de profissional de saúde para confirmar ou descartar a infecção por COVID-19 ou outras condições de saúde que precisem ser investigadas:

  • Quedas e problemas de equilíbrio: A diminuição da capacidade de equilíbrio, de deambulação, e o aumento da frequência de quedas e de acidentes, como derrubar e quebrar objetos, pode se dar pelo declínio do estado do paciente frente à infecção, seja COVID-19, dengue, gripe ou outras doenças, e deve ser pesquisada por profissional da saúde;
  • Mudanças de humor e alteração de consciência: Sonolência, desânimo, agitação ou irritabilidade podem se dar devido ao curso da demência, mas também podem significar desconforto por outra razão. Preste atenção a mudanças no humor do paciente ou em sintomas neuropsiquiátricos novos. Além de ser de difícil identificação em pacientes com demência, o rebaixamento no nível de consciência, por exemplo, é um sinal de alerta e pode se relacionar com a presença de doença grave;
  • Confusão mental/Delirium: O estado confusional agudo pode ser causado por COVID-19 ou por outras infecções. Uma piora abrupta das capacidades mentais, aparecimento de alucinações e problemas motores podem ser sinais de doença grave ou de oxigênio insuficiente no sangue. Essas manifestações, no contexto da COVID-19, são mais comuns em idosos.

Para um melhor desfecho das questões em saúde do paciente com demência, recomendamos algumas ações aos cuidadores, amigos e familiares:

  • Observe a higiene do paciente, do cuidador e da família! Lave sempre e bem as mãos, higienize-se quando voltar para casa, lave produtos e alimentos, use máscaras na rua, ao cozinhar e realizar as tarefas domésticas e quando estiver cuidando do indivíduo, sempre que possível;
  • Coloque lembretes pela casa para “lavar as mãos com água e sabão” e converse com o paciente sobre a importância dessa ação sempre que necessário;
  • Demonstre, sempre que julgar necessário, o processo completo de lavagem das mãos;
  • Observe os comportamentos e a segurança dele quando em contato com outras pessoas;
  • Preste atenção ao comportamento do indivíduo. Em pacientes com demência ou outras condições neuropsiquiátricas, agitação e irritabilidade podem ser sinais de desconforto que devem ser investigados;
  • Se possuir um oxímetro, use! A hipóxia (baixo nível de oxigênio no sangue), ilustrada no oxímetro como saturação menor que 95%, é um fator importante de complicações sérias e de mortalidade em COVID-19 e às vezes sinais de alerta como a cianose (coloração azul ou arroxeada nos lábios ou sob as unhas) e a dificuldade respiratória podem ser difíceis de identificar, principalmente em indivíduos já debilitados ou acamados;
  • Se o paciente apresentar aparência febril ou parecer gelado, meça a temperatura sempre que possível! Lembre-se que quanto mais completo e detalhado o relato que puder fazer ao profissional de saúde quando necessário, mais favoráveis serão os resultados;
  • Mantenha a vacinação em dia! A infecção por gripe somada à COVID-19 é uma condição importante para complicações respiratórias graves, e a vacina é uma forma segura e eficaz de evitar a contaminação pelo vírus da gripe;
  • Caso o paciente apresente algum dos sintomas iniciais, entre em contato com o médico de confiança da família ou ligue gratuitamente para o “Disque Saúde” (TeleSUS), do Ministério da Saúde, cujo número é 136 e que foi disponibilizado para tirar dúvidas sobre a COVID-19;
  • Caso o paciente apresente algum dos sinais de alerta, procure o serviço de saúde mais próximo da residência ou chame o SAMU 192. Deixe esse número anotado em um lugar de fácil acesso, como preso na porta da geladeira. Outros números para se manter à mão são: Bombeiros 193 e Polícia 190.

 

Leituras recomendadas: 

ALZHEIMER‘S ASSOCIATION. Coronavirus (COVID-19): Tips for Dementia Caregivers. Michigan, EUA, 2020. Disponível em: https://www.alz.org/help-support/caregiving/coronavirus-(covid-19)-tips-for-dementia-care. Acesso em: 13 jul. 2020. 

ALZHEIMER’S DISEASE INTERNATIONAL. ADI offers advice and support during COVID-19 Reino Unido. Disponível em: https://www.alz.co.uk/news/adi-offers-advice-and-support-during-covid-19 .Acesso em: 12 jul. 2020.

ALZHEIMER’S SOCIETY. What is dementia? Reino Unido. Disponível em: https://www.alzheimers.org.uk/about-dementia/types-dementia/what-dementia. Acesso em 14 jul. 2020. 

MANUAL MERCK SHARP & DOHME. Demência. EUA, 2018. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/del%C3%ADrio-e-dem%C3%AAncia/dem%C3%AAncia?query=dem%C3%AAncia. Acesso em 13 jul. 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Coronavírus – COVID-19. Brasil, 2020 Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/. Acesso em: 14 jul. 2020. 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual orienta profissionais da saúde para a higiene das mãos. Brasil, 2016. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/geral/50941-manual-orienta-profissionais-de-saude-para-a-higiene-das-maoshtml.html. Acesso em 15 jul. 2020. 

NIKOLICH-ZUGICH, Janko et al. SARS-CoV-2 and COVID-19 in older adults: what we may expect regarding pathogenesis, immune responses, and outcomes. GeroScience, 2020. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11357-020-00186-0. Acesso em: 16 jul. 2020.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. COVID-19: Materiais de comunicação. Brasília, 2020. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6130:covid-19-materiais-de-comunicacao&Itemid=0 Acesso em: 15 jul. 2020. 

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA. Sinais de alerta nos idosos sobre a COVID-19. Brasil, 2020. Disponível em: https://sbgg.org.br/sinais-de-alerta-nos-idosos-sobre-a-covid-19/ Acesso em 15 jul. 2020. 

WANG, Huali et al. Dementia care during COVID-19. Lancet, Reino Unido, 11 abr. 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7146671/. Acesso em: 14 jul. 2020.

WORLD HEALTH ORGANISATION. Coronavirus disease (COVID-19) pandemic. Disponível em: https://www.isupportfordementia.org/en/about-isupport/isupport-helps-you-to-understand-the-impact-of-dementia Acesso em: 13 jul. 2020. 

WORLD HEALTH ORGANISATION. Dementia and Caregiving. Disponível em: https://www.isupportfordementia.org/en/dementia-and-caregiving. Acesso em: 13 jul. 2020. 

WORLD HEALTH ORGANISATION. iSupport for Dementia. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/isupport-for-dementia Acesso em: 13 jul. 2020. 

WORLD HEALTH ORGANISATION. iSupport helps you to understand the impact of dementia. Disponível em:  https://www.isupportfordementia.org/en/about-isupport/isupport-helps-you-to-understand-the-impact-of-dementia Acesso em: 13 jul. 2020. 

 

Autores:
João Pedro de Barros Fernandes Gaion
Renata Postel Moreira

Revisores de Conteúdo:
Prof. Francisco de Assis Carvalho do Vale
Prof. Matheus Fernando Manzolli Ballestero

 

Créditos da imagem: Filmful no Rawpixel

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Autor

  • João Pedro de Barros Fernandes Gaion

    Estudante do curso de graduação em medicina na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente é Coordenador Geral do Centro Acadêmico de Medicina Sérgio Arouca (CAMSA) e membro da organização das ligas de Hematologia (LHEU) e de Neurologia e Neurocirurgia (LINEU) da UFSCar. Foi organizador da liga de Química Medicinal e Farmacologia (LiQMF) e Coordenador Sociocultural do CAMSA.

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