A pandemia do novo coronavírus foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020.
Como é sabido, o vírus se dissemina rapidamente, elevando o número de casos e gerando um grande aumento de internações hospitalares, em especial nas unidades de terapia intensiva. Esse cenário tem exigido dos profissionais de saúde, de modo frequente, a tarefa de comunicar notícias difíceis.
A notícia difícil pode ser definida como uma informação que acarreta ao paciente e seus familiares mudanças em relação ao futuro, como a revelação de uma doença que ameaça a vida, prejuízos funcionais, limitações relacionadas à evolução do quadro clínico, escassez de recursos para tratamento e até mesmo a comunicação de um óbito.
Comunicar esse tipo de notícia sempre foi uma tarefa árdua, com impactos físicos e emocionais para todos os envolvidos (pacientes, familiares e profissionais). Essa complexa ação, no âmbito da pandemia, ganha novos contornos devido, entre outros aspectos, às restrições de contato físico e à sucessão de vezes em que a situação de informes se repete. A comunicação entre profissional e familiar, por exemplo, é estabelecida via ligações telefônicas ou videochamadas. Se, por um lado, esse contato garante o compartilhamento dos boletins clínicos, por outro, há uma restrição da linguagem corporal e limitações no processo de acolhimento dos familiares.
Recomendações
A comunicação é uma ação fundamental no processo de cuidado e, quando bem feita, propicia sentimentos de aceitação e ajustamento. Diante desse fato, ferramentas como os protocolos PACIENTE, NURSE, SPIKES, bem como o método ASK – TELL – ASK, podem auxiliar o profissional no processo de comunicação difícil.
Especificamente no contexto da COVID-19, em que a comunicação é iniciada pelo diagnóstico de infecção pelo Sars-CoV-2, juntamente com orientações referentes ao isolamento social, e avança de acordo com o quadro de saúde — a notícia a ser dada pode envolver a internação com restrição de visitas e/ou a necessidade de uso da ventilação mecânica —, destacam-se as seguintes recomendações:
- Antes do encontro com o paciente/familiar, é importante que o profissional revise o prontuário e se aproprie das informações acerca do quadro clínico, preparando-se técnica e emocionalmente para o diálogo;
- Antes de iniciar a conversa, é importante buscar espaços mais tranquilos, com o mínimo de ruídos e de circulação de pessoas, para reduzir possíveis interrupções e a dispersão da atenção;
- A comunicação deve ser iniciada com a apresentação das pessoas envolvidas e pode ser estabelecida a partir do questionamento do que o paciente/familiar já sabe/compreende sobre o quadro clínico, tratamento e afins;
- É essencial questionar o que o paciente/familiar deseja saber no momento;
- É importante verificar se o paciente apresenta Diretivas Antecipadas de Vontade (DAVs) e/ou Testamento Vital, para embasar as tomadas de decisão da equipe e garantir a prestação de uma assistência centrada nos desejos do paciente;
- Em situações de emergência, evitar delegar ao familiar decisões que não lhe cabem nesse momento, lembrando que não se trata de uma escolha e sim de uma indicação técnico-profissional;
- Utilizar linguagem clara e simples, evitando termos técnicos. Realizar pausas entre as informações, ofertando espaços de escuta e de compartilhamento de emoções;
- Respeitar o silêncio e manifestar empatia (“Eu sei que isso não é o que você gostaria de ouvir hoje”, “São notícias muito difíceis”);
- Sintetizar ao final da comunicação o conteúdo dialogado, explorando o entendimento do paciente/familiar e assegurando a oferta de suporte contínuo.
É importante lembrar que o processo de comunicação, mesmo que por teleatendimento, necessita ser documentado em prontuário e que, apesar da distância, quando o profissional demonstra preparo e abertura para o diálogo e canal de escuta é possível, sim, realizar uma boa comunicação em saúde.
Referências:
BASTOS, B. R.; FONSECA, A. C. G.; PEREIRA, A. K. S.; SILVA, L. C. S. Formação dos Profissionais de Saúde na Comunicação de Más Notícias em Cuidados Paliativos Oncológicos. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 62, n. 3, p. 263-266, 2016.
BORGES, M. S.; FREITAS, G.; GURGEL, W. A comunicação da má notícia na visão dos profissionais de saúde. Revista Tempus Acta de Saúde Coletiva, v. 6, n.3, p. 113-126, abr. 2012.
BUCKMAN, R. How to break bad news- a guide for health – care professionals. University of Toronto Press, Scholarly Publishing, 1992.
CRISPIM, D et al. Comunicação difícil e COVID-19: Recomendações práticas para comunicação e acolhimento em diferentes cenários da pandemia. 2020. Disponível em: https://ammg.org.br/noticia/obitos-e-visitas-covid-19/. Acesso em: 21 abr. 2020.
KRIEGER, M. V. Comunicação de más notícias em saúde: contribuições a discussão bioética através de uma nova ética das virtudes. 2010. 110f. Dissertação de Mestrado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva. Repositório Institucional na Fiocruz. UFRJ, UFF e UERJ. Rio de Janeiro, 2010.
Oxford University Press. A Field Manual for Palliative Care in Humanitarian Crises, 2019.
Elaborado por:
Tatiana Barbieri Bombarda
Ana Flávia de Ávila Camargo
Maria Caroline Volpin
Esther Angélica Luiz Ferreira
Juliana Morais Menegussi
Stefhanie Piovezan
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