A pandemia de COVID-19 traz consigo a necessidade de distanciamento social, o que modifica o cotidiano e impacta diretamente a saúde mental das pessoas, sobretudo as idosas.
Por isso, todas as formas de ajudá-las a minimizar tais efeitos se tornam importantes. Uma delas foi a elaboração do folheto O que vou fazer hoje? Um guia para os idosos desfrutarem seu tempo em casa, disponível aqui. Contudo, além destas considerações, é importante fazer algumas outras para contribuir com o enfrentamento da situação de distanciamento social.
É preciso compreender que todos nós vivemos uma ruptura de nossos cotidianos, pois mudamos a forma como sempre fizemos algumas coisas, o que gera uma necessidade de adaptação. Esta necessidade pode causar mudanças nos comportamentos e sentimentos das pessoas, especialmente das idosas. Portanto, neste momento, não as critique: é preciso, na verdade, acolhê-las com compaixão.
Algumas reações são esperadas em momentos de catástrofe tal como este que vivemos: irritação, tristeza, raiva, negar a situação, querer continuar a vida como se nada tivesse acontecido/estivesse acontecendo, rir, fazer piadas… Alguns indivíduos viverão a situação com letargia e pouco interesse em fazer coisas; já outros adotarão uma postura diferente, fazendo várias atividades como forma de controlar o meio ao seu redor.
Além destas alterações, alguns sintomas físicos podem aparecer, tais como taquicardia (quando o coração bate mais rápido), aperto no peito, dores de estômago, sudorese e alterações do sono e da memória (principalmente a memória evocativa).
Como lidar, então, com estes sentimentos e comportamentos em decorrência da alteração do nosso dia a dia?
- Uma estratégia é estimular a pessoa a pensar. “Quando você passou por situações problemáticas na vida e que te angustiavam, o que você fazia? Meditava? Respirava? Cantava? Telefonava para alguém? Faça isso!”. Neste momento que estamos vivendo é bom relembrar que já superamos outros obstáculos e que estratégias semelhantes podem ser úteis agora.
- Busque realizar atividades que possam trazer sentimentos positivos, como as sugeridas no guia O que vou fazer hoje? Um guia…, que apresenta ideias voltadas para o público idoso, tais como agradecer pelas coisas boas, escrever cartas, cozinhar, cantar, aprender a usar o WhatsApp, praticar exercícios respiratórios etc.
- Outra forma muito interessante é olhar para o modo como são realizadas as atividades do dia a dia (pensar com quem as fazemos, porque se tornou difícil fazê-las…).
- Atribua sentido: pensar que estamos vivendo uma situação momentânea (a do distanciamento) e atribuir um sentido a ela – por exemplo, conceber que “ficando em casa estou protegendo não só a mim, mas aos meus filhos, cônjuges, netos, amigos, vizinhos, a sociedade” significa dar sentido a uma experiência, tornando-se mais fácil lidar com ela.
Importante! Nesta primeira fase da pandemia pode ser que manter a rotina seja algo muito ruim. Talvez a pessoa precise dormir um pouco mais, ou talvez ela queira comer algo diferente… Contudo, é bom que a pessoa consiga manter as atividades que gosta de fazer e tente descobrir outras.
Família e amigxs: sejam empáticxs
É importante que famílias e amigxs ouçam o que mais incomoda a pessoa idosa nesta situação de distanciamento social:
- validar o que ela sente (dizer que entende), numa clara ação de empatia;
- voltar a lembrar que se trata de um momento dentro da longa história de vida desta pessoa;
- colocá-la no papel de protagonista, como alguém capaz de superar o que está vivendo;
- colocar-se disponível e propor formas de resolver problemas (por exemplo, fazer compras, pagar contas, adequar agendas de idas ao médico), evitando que a pessoa idosa reduza o distanciamento social.
E o que não fazer?
Não julgue as pessoas idosas sobre os seus comportamentos e atitudes. Não seja violento(a) verbalmente e não se aproveite financeiramente delas. Fazer muitas cobranças e exigir que elas cumpram uma rotina que não foi a que escolheram pode ser ainda mais danoso.
Se a pessoa idosa não quer ficar em casa e cumprir o distanciamento social, esclareça a importância desta prática e coloque os limites que achar necessários à preservação emocional do(a) familiar e/ou do(a) cuidador(a). Se necessário, afaste-se.
Por fim, é preciso respeitar a pessoa idosa em sua decisão. Lembre-se: ela é capaz de tomar decisões. Não tire isso dela e não a trate como uma criança. Forneça as informações necessárias para que ela tome mais consciência dos efeitos e das consequências de suas escolhas.
“O que vou fazer hoje?”
Esta é a pergunta que muitos(as) de nós temos feito a nós mesmos(as) durante esta pandemia. Sozinho(a) ou em família, esperamos que aqui possa ajudar as pessoas idosas a lidarem com os sentimentos que surgem a cada dia desta quarentena, para que cuidem de sua saúde mental e sejam acolhidas.
Não se cobre muito. Lembre-se de que somos todos seres humanos e que superamos muitos obstáculos, vencendo-os. Vamos aprender a lidar com esta situação.
Observação: as considerações sobre rotina expostas neste texto são feitas tendo em vista indivíduos idosos sem alterações cognitivas ou com síndromes demenciais.
Versão em Libras:
Créditos da imagem: Atividades Humanas e Terapia Ocupacional
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