A Síndrome de Burnout (SB), também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, resulta da exposição contínua do trabalhador e da trabalhadora ao estresse no ambiente de trabalho. O termo burnout, derivado do inglês, significa queima ou combustão total e nos faz lembrar a pane seca do automóvel, que depois de ter queimado todo o combustível disponível, para de funcionar até que suas peças fiquem danificadas permanentemente. A SB refere-se a um estado de cansaço extremo e exaustão total da energia do(a) trabalhador(a) e, também, uma perda do propósito em relação com o trabalho1.
O trabalho humano, apesar de não ser mecanizado como as atividades dos automóveis, é um dos que mais consome energia (ou combustível), principalmente por estar atrelado ao relacionamento interpessoal. Neste sentido, a SB acomete, majoritariamente, trabalhadores e trabalhadoras que estão em contato direto com outras pessoas, o que prevê a mediação das relações, estabelecimento de expectativas, conflitos e a existência de diferentes necessidades. Os(As) profissionais da área da saúde, por exemplo, trabalham em um contexto de elevado nível de estresse, que envolve o atendimento imediato a situações que podem custar a vida das pessoas. Isso gera uma carga exaustiva de trabalho, que pode ser muito maior do que os recursos pessoais (mecanismos de enfrentamento ao estresse) que o profissional dispõe e, por consequência, este passa a manifestar quadro compatível com esta a SB2.

Devido ao crescente número de trabalhadores e trabalhadoras adoecidos mentalmente pelo estresse no trabalho, a Organização Mundial de Saúde reconheceu a SB como uma doença ocupacional (ou seja, sua gênese está no trabalho) e a incluiu na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
E quais são os sinais de alerta? A SB é caracterizada por exaustão emocional ou esgotamento de energia, despersonalização (apatia ou distanciamento afetivo em relação aos colegas), distanciamento do trabalho, sentimentos de ineficácia e falta de realização pessoal². Os trabalhadores e trabalhadoras acometidos pela SB geralmente apresentam diminuição da motivação, do prazer e da produtividade em decorrência do esgotamento mental que se torna crônico.

Estes são alguns fatores estressantes que podem levar ao adoecimento do trabalhador e da trabalhadora pela SB³:
- Características individuais: envolvimento emocional excessivo com os problemas das demais pessoas; impaciência (que também pode ser uma manifestação do estresse); baixa autoestima; perfeccionismo;
- Características socioeconômicas: falta de suporte familiar e baixa remuneração salarial;
- Características organizacionais: baixa autonomia no trabalho; rigidez da empresa; dificuldade de promoção e/ou de aumento salarial; ambiente organizacional competitivo; pressão por produtividade.
- Características do trabalho: sobrecarga e acúmulo de trabalho, conflitos, comunicação ineficaz no trabalho, intensas jornadas;
A impossibilidade da criação de estratégias de enfrentamento frente às demandas excessivas de trabalho, dentre outros motivos, pode fazer com que o(a) trabalhador(a) adoeça. Além disso, a falta de políticas institucionais que amparem o trabalhador, somada às práticas de descaso já instalado.
A sobrecarga no trabalho faz com que os trabalhadores dediquem ao máximo suas energias para atender às demandas laborais, não conseguindo encontrar meios para o descanso, recuperação, autocuidado e equilíbrio, o que gera adoecimento. Por isso, é importante compreender que os trabalhadores não são super-heróis e não devem ser vistos como tal. Eles são seres humanos que sofrem e adoecem quando expostos à sobrecarga física ou emocional no trabalho.

Por fim, é preciso conhecer e melhorar os caminhos. Quanto piores as condições da pista, mais inseguro será o percurso e, consequentemente, em maior risco de pane estaremos. Da mesma forma, as condições de trabalho precárias e que exploram o trabalhador, que desrespeitam normas de proteção à saúde e de prevenção de riscos, vão resultar em situações de trabalho inseguras, que inevitavelmente custarão a saúde (e até a vida) do trabalhador! Uma carga de trabalho gerenciável, sustentável e que não demande ao máximo as forças do trabalhador é imprescindível para promover um ambiente de trabalho seguro e saudável.
E lembre-se: para mantermos o automóvel em movimento, é preciso de combustível de qualidade. Você consegue pensar com o que tem ‘enchido seu reservatório’? Olhe para si mesmo, invista no seu autocuidado e nas coisas que te fazem bem. É importante fazer uma pausa na correria do dia-a-dia e prestar atenção no seu corpo-mente-espírito, buscando equilíbrio e força. Preste atenção, também, no seu ambiente de trabalho, buscando formas de luta e defesas coletivas para que não seja um ambiente tóxico e nocivo à sua saúde. Faça como o Roberto Carlos e cuide bem do seu calhambeque! Bi-bi.
Referências
- MASLACH, C.; SCHAUFELI, W. B.; LEITER, M. P. Job burnout. Rev Phsycol Ann. 2001; 397–422. Disponível em: https://www.wilmarschaufeli.nl/publications/Schaufeli/154.pdf. Acesso em: 15 jun. 2021.
- MASLACH, C.; LEITER, M. P. Understanding the burnout experience – recent researchand its implications for psychiatry. World Psychiatry 15:2 – June, 2016. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/wps.20311. Acesso em: 15 jun. 2021.
- SILVA, R.; Pimentel DA. et al. Burnout e estratégias de enfrentamento em profissionais de enfermagem. Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 67 (1): 130-145, ano 2015. Disponível em: < https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=229039192010> Acesso em: 13 jun. 2021.
Autoras:
Rosângela Aparecida de Sousa
Fernanda Maria de Miranda
Vivian Aline Mininel
Revisores:
Ana Carolina Reis
Andressa Rueda de Oliveira
Bruna Caroline Gorla
Marielle Cristina Luciano
Mônica Jordão de Souza Pinto
Renata Cristina da Penha Silveira
Vera Regina Lorenz
Créditos da imagem: CreativeArt no Freepik
Veja também: