“Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado”
(Canção infantil / Domínio público)
Na publicação anterior, intitulada ‘Vamos falar de saúde mental e crianças na pandemia‘, chamamos a atenção para o fato da saúde mental de crianças estar em risco frente à pandemia pela COVID-19, sobretudo por favorecer a sensação de incerteza e ansiedade (IMRAN et al, 2020), que, como apontamos, podem ser tanto consequências imediatas, quanto a longo prazo (GOLBERSTEIN et al, 2020).
Uma intervenção de suporte pode ser a de favorecer a voz da criança, sua expressão. Neste artigo, iremos destacar o cantar, a linguagem musical.
A criança é um ser brincante, que brincando “musica” e que pela música brinca. A linguagem musical está no ser criança e proporciona desenvolvimento, expressão, aprendizagens, prazer, felicidade, autonomia, dentre inúmeros outros alcances. O balbuciar, cantarolar, cantar, bem como o inerente escutar, promovem sensações ímpares, acionam conexões cerebrais de distintas esferas! Não há dúvidas de que, na primeira infância, a música auxilia de forma efetiva no desenvolvimento da criança, sendo essencial ao bem viver.
Deste modo, nos tempos de pandemia a música pode se tornar uma forte aliada no sentido de contribuir com um clima relacional gostoso, de interação mútua, com grandes chances de afetar positivamente o humor e o bem-estar psicoemocional da criança e daquele que com ela se dispõe a cantar. Acima de tudo, tem o potencial de favorecer à criança uma forma de se expressar, de dar vazão a questões que estejam difíceis de elaborar, como o fato de não poder ver pessoas queridas, do pouco espaço para brincar, da rotina ser alterada de um dia para outro, do tempo que ficam em frente à tela, entre outras questões particulares a cada criança. Assim como acaba por ter alcances no adulto, como já citou Cervantes em Dom Quixote, “Quem canta seus males espanta”. Ainda, cantar, para além da arte, entretenimento e saúde mental, é contribuir com a garantia do direito a cultura, em especial quando se selecionam cantigas populares.
O canto é o instrumento mais lindo que existe. O som que emitimos através de nossas cordas vocais é o primeiro sinal de que chegamos ao mundo; mal deixamos o ventre materno, já podemos vir a emiti-lo. É uma das primeiras formas de comunicação fora do útero. Por isso, utilizar este recurso natural na primeira infância só tem a agregar.
As propriedades dos elementos musicais permitem que a criança nos mostre como ela vê o mundo, como processa o tempo no seu próprio tempo. Por este motivo, o cantar na pandemia ajuda a criança a se expressar e a liberar algumas emoções, além de ajudar na dicção e na prática vocal através de entoações melódicas e rítmicas. Por incrível que pareça, as crianças possuem uma afinação natural, elas são capazes de cantar dentro do tom sem desafinar; contudo, sua audição em desenvolvimento começa a perder tal habilidade se não for explorada, incentivada e praticada.
Não deixe isso acontecer, incorpore o cantar na interação com crianças ao longo da pandemia. Enriqueça o ambiente sonoro, permita que ele seja exaltado e saboreado com uma variedade diversificada de sons, como acontece nos tempos da vida intrauterina. Que tal incorporar o canto no cotidiano das relações com sua criança? Uma sugestão é marcar a rotina com músicas e juntamente com ela cantar e sentir tudo que daí emana. Para aqueles que tocam algum instrumento, tocar para a criança, oportunizar melodias sonoras diversas, é outra opção.
Desafiamos cada um de vocês a compartilhar um vídeo ou um áudio de uma música com uma criança. Se possível, cante você para e com ela. Experimente, a exemplo, curtir os vídeos do grupo ‘EMCANTAR Cia Cultural’. Permita que a proposta invada a sua relação com crianças. Sinta o prazer de escutar, cantar e ser embalado….
Além disso, deixamos aqui duas músicas por nós sugeridas. Acesse os links abaixo, escute, cante e se encante, semeie o cantar na vida de crianças!
Bibliografia:
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de psicopedagogia musical. São Paulo. Summus, 1988. (Coleção novas buscas em educação; v. 31).
GOLBERSTEIN E, WEN H, MILLER BF. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) and Mental Health for Children and Adolescents [published online ahead of print, 2020 Apr 14]. JAMA Pediatr. 2020;10.1001/jamapediatrics.2020.1456. doi:10.1001/jamapediatrics.2020.1456
IMRAN N, ZESHAN M, PERVAIZ Z. Mental health considerations for children & adolescents in COVID-19 Pandemic. Pak J Med Sci. 2020;36(COVID19-S4):S67-S72. doi:10.12669/pjms.36.COVID19-S4.2759
LOURO, Viviane. Conceitos de psicomotricidade e o ensino de música. Música na Educação Básica, V. 9, n. 10/11,2009.
MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz (Orgs.). Pedagogias em educação musical . Curitiba: Ibepex,2011.
TARGAS, Keila de Mello; JOLY, Ilza Zenker Leme. Canções, diálogos e educação: uma experiência em busca de uma prática escolar humanizadora. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 21, 113-123, mar. 2009.
Autores:
Franciele Félix Macedo
Monika Wernet
Patrícia Carla de Souza Della Barba
Déborah Carvalho Cavalcante
Klaus Wernet
Créditos da imagem: cottonbro em Pexels
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