1. O que é um AVC?
É preciso entender que o cérebro é responsável por diversas funções do organismo, como a fala, coordenação motora, respiração, sensações, dentre outras. Dessa forma, ele atua como um centro de controle para o corpo.
Para tal funcionamento, o cérebro precisa de nutrientes e oxigênio, que são distribuídos a ele por meio das artérias e veias. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) acontece quando uma parte do cérebro tem seu fluxo de sangue diminuído ou interrompido, o que pode causar lesão e morte de neurônios. Essa interrupção pode ser por obstrução ou rompimento de uma artéria que leva sangue oxigenado para o cérebro. Quando há obstrução por um coágulo, o AVC é chamado de isquêmico e quando há o rompimento da artéria, o AVC é denominado hemorrágico. O AVC isquêmico é o que acontece mais comumente.
O AVC se manifesta pelo comprometimento de algumas funções neurológicas de maneira súbita. Isso porque há uma interrupção do fluxo de oxigênio e consequente lesão neuronal.
2. Quais cuidados tomar para reduzir o risco de ter um AVC?
O AVC é uma doença multifatorial, ou seja, vários fatores, modificáveis ou não, estão ligados a sua manifestação.
Dentre os não modificáveis é possível citar:
- Idade: apesar de poder acometer qualquer idade, com o passar dos anos o risco de se ter um AVC aumenta, as estatísticas mostram que as chances dobram a cada década após os 55 anos.
- Sexo: pessoas do sexo masculino exibem maior tendência ao desenvolvimento do AVC, exceto na faixa etária dos 35 aos 44 anos e acima dos 85.
- Cor de pele: os pretos têm maior probabilidade de terem AVC.
- Genética: histórico de AVC na família é um fator de risco, principalmente para mulheres; e doenças como anemia falciforme e homocistinúria.
- Doença vascular prévia: quem já teve “ameaça de derrame”, ou “infarto do coração”, ou problemas de circulação sanguínea nas pernas deve ficar ainda mais atento aos sintomas que indicam um possível AVC, assim como quem já teve um caso de AVC.
Os fatores modificáveis podem ser controlados e alterados, de modo que tornam-se ferramentas para a prevenção de AVC. Pode-se mencionar:
- Hipertensão: a “pressão alta” acontece quando a pressão sistólica é maior ou igual a 140 mmHg, e a diastólica é maior ou igual 90 mmHg (14 por 9). A pressão alta lesiona os vasos sanguíneos do cérebro e é considerada um dos fatores de risco mais importantes e bem documentados do AVC. É fundamental, portanto, que hipertensos realizem o controle da doença, com mudança de hábitos e medicação adequada quando necessário.
- Problemas cardíacos: as doenças do coração, principalmente as que produzem arritmias.
- Tabagismo: fumar causa alterações no sistema circulatório e está fortemente relacionado com AVC.
- Diabetes: o “excesso de açúcar no sangue” também causa danos nos vasos sanguíneos e, por isso, o controle do diabetes deve estar em dia.
- Colesterol alto: o “excesso de gordura no sangue” leva à formação de placas nas paredes das artérias, que além de diminuírem a passagem do sangue, podem se desprender da parede de vasos maiores, permanecer na circulação e chegar em vasos menores, obstruindo completamente a passagem do sangue. Manter as taxas de colesterol saudáveis é fundamental.
- Sedentarismo: pessoas sedentárias apresentam uma maior chance de ocorrência de um AVC em 10 anos. Além disso, não praticar exercícios físicos está relacionado a diversos problemas de saúde, sendo fundamental que adultos pratiquem atividades aeróbicas de moderadas a vigorosas (como caminhadas rápidas) por 40 minutos, de 3 a 4 vezes por semana.
- Obesidade: está relacionada com aumento da pressão sanguínea e com a resistência à insulina que pode levar ao diabetes, dessa forma, a redução do peso é recomendada para indivíduos com sobrepeso (IMC entre 25 e 29 Kg/m2) e obesos (IMC maior que 30 Kg/m2).
- Etilismo: o consumo elevado de bebidas alcoólicas leva à hipertensão e ao aumento do colesterol.
- Alimentação: foi demonstrado que uma alimentação saudável pode diminuir as chances de ter um AVC. É recomendável uma dieta baseada em baixas taxas de sódio (presente no sal de cozinha) e consumo de frutas, vegetais e alimentos com baixa taxa de gordura.
3. Como saber se eu ou alguém próximo a mim está tendo um AVC?
O início súbito dos sintomas abaixo pode indicar um AVC:
- Desvio da boca para algum lado.
- Fraqueza ou formigamento no braço ou na perna (principalmente de um lado só do corpo).
- Alteração da fala ou compreensão.
- Alteração da visão (em um ou ambos olhos).
- Dor de cabeça intensa.
- Alteração do equilíbrio, do andar, da coordenação ou tontura.
Para facilitar a identificação da pessoa com AVC, acompanhe o esquema abaixo:
4. O que eu faço se eu ou alguém próximo a mim estiver tendo um AVC?
Se você ou alguém próximo a você tiver algum dos sintomas apresentados, é necessário agir com rapidez!
O AVC é uma emergência médica, quanto mais rápido for o início do tratamento, menores as chances de sequelas!
Entre imediatamente em contato com o SAMU (192) ou com outro serviço de emergência.
5. Estou com medo de ir ao hospital por conta da pandemia, é seguro?
Quanto mais rápido for feito o tratamento para o AVC, menos neurônios serão perdidos e a pessoa terá maior chances de sobreviver e de ter menos sequelas.
Sendo assim, o ideal é buscar o atendimento médico o mais rápido possível, mesmo em tempos de pandemia.
6. Estou com COVID-19, posso ter um AVC?
A COVID-19 é uma doença caracterizada principalmente por sintomas como febre, tosse, alteração da frequência respiratória e, em alguns casos, diarreia e dor abdominal. Além disso, apresentam-se manifestações relacionadas ao sistema nervoso, como perda do paladar, perda do olfato, dor de cabeça, visão borrada, dentre outras.
O AVC é uma manifestação neurológica menos frequente que a COVID-19, acometendo em torno de 2,8% das pessoas infectadas pelo novo coronavírus e em caso de manifestação grave da doença, essa porcentagem chega a 5,7%. Supõe-se que isso aconteça por conta de alterações na coagulação sanguínea, lembrando que o excesso de formação de coágulos pode ser responsável pelo estreitamento ou oclusão dos vasos. Por isso, estar com COVID-19 pode aumentar o risco de se ter um acidente vascular cerebral e, inclusive, alguns estudos trazem a possibilidade de a COVID-19 se manifestar por meio do AVC.
É importante destacar os fatores de risco para se ter um quadro grave de COVID-19:
- Idosos (mais de 60 anos).
- Condições de saúde pré-existentes como:
- Hipertensão;
- Problemas no coração;
- Diabetes;
- Câncer;
- Doenças pulmonares;
Como podemos notar, alguns fatores de risco para AVC são também agravantes para a COVID-19, portanto, manter hábitos saudáveis é ainda mais importante neste momento.
Manter os cuidados de higiene e o distanciamento social é indispensável. Ou seja, lavar as mãos, usar álcool em objetos e superfícies, sair de casa apenas quando necessário e usar máscaras.
7. Como dar continuidade ao meu tratamento pós-AVC?
Após ter um AVC, por causa da falta de fluxo de sangue que causou lesões em regiões do cérebro, podem permanecer algumas sequelas na coordenação motora (movimentação de braço e perna atingidos), na fala, para engolir etc. Os neurônios perdidos não poderão ser recuperados. Dessa forma, as atividades de reabilitação nos 3 primeiros meses são fundamentais. Visto que, estimulam o cérebro a estabelecer novos caminhos para realizar tarefas, aumentando a qualidade de vida de quem teve um AVC. Por isso, o acompanhamento profissional para reabilitação é tão importante.
O programa de reabilitação contará com o trabalho de muitos profissionais da saúde, como o fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e psicológico, dentre outros. As queixas da pessoa que teve AVC será um fator muito importante a ser considerado para o tratamento. De modo que, por exemplo, exercícios serão propostos para facilitar as atividades da vida diária, como alimentar-se, escovar os dentes ou caminhar. O acompanhamento também será importante para reeducar as pessoas sobre bons hábitos de vida. Este acompanhamento ocorrerá com o apoio de todos estes profissionais.
Além da atenção com a reabilitação, é preciso manter acompanhamento médico para evitar que um novo AVC aconteça, investir em mudanças em hábitos de vida e utilizar medicamentos, quando indicado.
Durante a pandemia, muitos atendimentos de saúde hospitalares e domicialiares foram suspendidos para evitar a transmissão da COVID. Entretanto, alguns serviços estão sendo disponibilizados por teleconsulta. Por isso, é importante procurar unidades de saúde de referência, via telefone ou internet. E, também, procurar se informar sobre a possibilidade de ter orientações multiprofissionais, para dar início ou continuar a reabilitação em domicílio. A exemplo, a Unidade de Saúde Escola (UFSCar) tem oferecido teleatendimentos de Fisioterapia Neurofuncional.
8. Como procuro ajuda?
Caso você tenha ou saiba de alguém que apresente os sintomas mencionados, entre em contato com os serviços de emergência: SAMU 192.
Para cuidados de reabilitação após ter tido um AVC, ligue para a Unidade de Saúde da Família (USF) ou Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência para recomendações sobre atividades durante a pandemia.
9. LEMBRE-SE:
- Em caso de AVC, agir rápido salva vidas e reduz sequelas.
- Havendo os sintomas mencionados, busque imediatamente um serviço de emergência: 192.
- Não deixe de investir na prevenção e na reabilitação mesmo com o distanciamento social.
10. Para saber mais, acesse:
- Associação Brasil AVC;
- Rede Brasil AVC;
- Ministério da Saúde;
- Organização Pan-Americana de Saúde;
- Laboratório de pesquisa em fisioterapia neurológica da UFSCar (LaFIN UFSCar):
REFERÊNCIAS
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10. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de rotinas para atenção ao AVC. Editora do Ministério da Saúde: Brasília, 2013.
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Autores:
Natália Pedrini Menegassi
Thauanna Alves Meira
Prof. Thiago Luiz de Russo
Revisores de conteúdo:
Prof. Matheus Fernando Manzolli Ballestero
Prof. Francisco de Assis Carvalho do Vale
Créditos da imagem: Ake no Rawpixel
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