Antes de falarmos de sono, higiene e alimentação na velhice, cabe lembrar que o processo de envelhecimento é bastante heterogêneo entre as pessoas. Assim, o nível de independência e autonomia é extremamente variável entre elas, sendo preciso conhecer e valorizar as capacidades e sempre respeitar o direito à tomada de decisão. A seguir, fornecemos orientações que buscam ajudar uma ampla faixa de pessoas idosas com diferentes níveis de funcionalidade.

Sono na velhice

Pessoas idosas, de modo geral, costumam ter menor necessidade de sono Isso ocorre em virtude de alterações próprias ao processo de envelhecimento, sendo também comum um aumento das queixas de insônia com o aumento da idade (1).

As alterações costumam acontecer não somente em relação a quantidade, mas também em relação a qualidade. O sono se torna mais fragmentado (maior número de interrupções), além da redução da profundidade do sono noturno (mais sensível a despertares, por exemplo, com ruídos ou iluminação). 

Entretanto, é importante diferenciar as alterações ligadas ao envelhecimento, daquelas causadas por distúrbios do sono, que acarretam importante perda de qualidade de vida à pessoa idosa. Estes sintomas estão ligados a riscos aumentados de doenças cerebrovasculares, cardiovasculares, quedas, transtornos cognitivos e do humor e diminuição da competência imunológica (2,3) .

As causas do distúrbio do sono podem ser: má higiene do sono, estresse,  mudanças na rotina, transtornos de humor (como ansiedade ou depressão) e outros fatores. É importante destacar que, em certos casos, tratamentos não medicamentosos podem apresentar resultados eficientes e similares aos obtidos com o uso de fármacos sedativos(1)

→ A higiene do sono compreende um conjunto de ações que, se realizadas regularmente, podem melhorar a qualidade do repouso. Saiba mais sobre essas ações na publicação do InformaSUS “Seu sono também piorou na pandemia?”
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 Orientações para uma noite de sono mais segura

É muito comum que idosos durmam e acordem mais cedo, muitas vezes antes de haver a iluminação natural solar. Além disso, podem ocorrer os despertares noturnos, como por exemplo, para urinar, conhecido como noctúria.

Por isso, é importante tentar fazer algumas adaptações nos ambientes onde eles dormem. As ações listadas a seguir objetivam auxiliar nessa adequação para um adormecer e despertar mais seguros, diminuindo a chances de ocorrência de quedas**, que são uma importante causa de morbidade na população idosa(4)

  • Facilite o acendimento das luzes! Deixe um abajur ou os interruptores próximos à cabeceira da cama;
  • Mantenha uma luz sempre acesa na casa! Luzes ligadas em corredores podem auxiliar na segurança caso haja um despertar antes de haver a iluminação natural. Isso evita que nenhum deslocamento seja feito no escuro, o que ofereceria além do risco de quedas, risco de colisões com objetos; 
  • Retire tapetes da casa: tapetes pelo quarto, corredores e demais locais da residência aumentam o risco de quedas (com exceção daqueles que tem função antiderrapante em banheiros), bem como roupas e objetos espalhados pelo chão;
  • Cuidado com fios! Fiação pelo caminho no quarto ou nos demais cômodos também representam risco aumentado para tombamentos;  
  • A altura da cama importa! Uma cama muito baixa ou muito alta, acaba por interferir na segurança ao se deitar ou levantar. O ideal é que quando o idoso se sentar na beira da cama, ele consiga flexionar os joelhos a 90ª graus, firmando bem os pés, encostando toda a sola no chão. A altura da cama, incluindo o colchão deve, ficar entre 45-50 centímetros (5,6).
  • O despertar noturno para urinar, ou noctúria, acaba por fragmentar o sono, consequentemente dificultando sua retomada(7), além de ser também um fator de risco para quedas (4). Sendo assim, é importante evitar a ingestão de líquidos próximo ao horário de dormir
  • Caso faça uso de medicamentos, utilize-os as de acordo com os horários estipulados pelo médico. 

 

** Se o idoso cair, o que fazer? Acesse o material do UNASUS  “O idoso caiu, e agora?”, para saber algumas medidas a serem tomadas em caso de queda da pessoa idosa.
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Apesar da grande frequência de transtornos do sono observados em idosos, estes não devem ser tratados como normais ou ignorados. Para garantir uma melhoria na qualidade de vida tanto do idoso, como de seus familiares e/ou cuidadores, prestar atenção nos sintomas e procurar saná-los é importante.  

O uso frequente do álcool em gel requer cuidados maiores na pele idosa!

A grande exposição ao álcool em gel ou contato com detergentes/sabões, pode levar ao ressecamento das mãos, especialmente em pessoas idosas, que tem a pele mais frágil e mais suscetível ao ressecamento(8). Isso ocorre, dentre outros fatores, porque com o aumento de anos de vida, há uma diminuição natural nos tecidos conjuntivos que compõem pele e olhos. Assim, uma ingestão de líquidos adequada é um cuidado essencial ao longo de toda nossa vida.

→ O ressecamento excessivo pode evoluir para dermatites e ferimentos (8).

Para reduzir esse ressecamento excessivo das mãos, após aplicar o álcool em gel 70% ou lavar as mãos com sabonete**, seque-as e aplique um hidratante de sua preferência, ou algum óleo vegetal (como de girassol).  

A queixa de pele ressecada é uma das principais reclamações entre brasileiros com mais de 65 anos em consultas dermatológicas(8)

 Para evitar a pele seca de modo geral, não apenas das mãos:

  • Beba diariamente a quantidade adequada de água;
  • Faça hidratação da pele após o banho (esse momento potencializa a ação hidratante dos cremes ou óleos);
  • Evite banhos muito quentes e demorados;
  • Não use buchas ou esponjas na pele.

 

ATENÇÂO:

  • Nunca misture produtos de limpeza diferentes, pois dependendo da composição, eles podem reagir e produzir vapores tóxicos altamente perigosos.
  • Se possível, quando higienizar ambientes utilize luvas ao manipular panos embebidos em materiais de limpeza ou os materiais em si. Existe o risco deles afetarem a pele quando em contato (ex: desinfetantes e água sanitária).
  • Caso não possua luvas, uma outra possibilidade é lavar as mãos para retirar o produto de limpeza que possa ter permanecido nelas.

 

** O sabonete líquido é mais indicado do que em barra para uso coletivo, pois este último, quando acumula água, pode favorecer a proliferação de fungos.

 

Cuidados com a alimentação podem ajudar o sistema imunológico

A adoção de uma alimentação balanceada é a melhor forma de auxiliar na diminuição natural do sistema imune. Os idosos possuem uma série de alterações próprias do processo de envelhecimento em seu organismo. Dentre elas, o sistema imunológico sofre uma diminuição da eficiência das suas defesas contra agentes infecciosos, como o novo coronavírus. Isto é conhecido como imunossenescência.

“Embora não haja comprovação científica da relação entre o consumo de determinados alimentos ou suplementos e o combate ao coronavírus, a alimentação saudável é primordial para a manutenção da saúde e do sistema imunológico “
Fonte: Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA-Fiocruz) (b) https://obha.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/06/obha-responde1.png. 

É preciso estar atento: alterações funcionais decorrentes do envelhecimento, doenças crônicas, o uso de múltiplos medicamentos, baixo poder aquisitivo e o isolamento social podem ser fatores que alteram o apetite e o estado nutricional no  idoso (9).

 Por isso, é importante sempre checar como está a alimentação do idoso, tanto em quantidade como em qualidade. 

→ Uma constância nos bons hábitos alimentares deve ser mantida, pois uma boa imunidade está ligada a um bom estado de saúde: algo que deve ser trabalhado diariamente e em longo prazo. Tenha um horário fixo para se alimentar!

→ Todas as decisões sobre a alimentação devem envolver um diálogo e esclarecimento junto ao idoso, permitindo que ele participe e compreenda esse processo.

Atenção! O uso de suplementos vitamínicos ou minerais deve ser feito sob indicação do médico ou nutricionista. 

 

Acesse no site do InformaSUS a publicação “Segurança Alimentar em tempos de pandemia“ para baixar o manual sobre segurança alimentar e saber como fazer escolhas mais saudáveis, higienizar e armazenar os alimentos.    

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Cuide do local onde a alimentação é preparada e consumida

Garantir um ambiente de alimentação adequado e seguro, possibilitando a participação do idoso no planejamento da alimentação diária e no preparo das refeições, impacta positivamente na auto-estima e no prazer à mesa (10).

  1. Um ambiente limpo, arejado e bem iluminado é essencial para a segurança física e alimentar do idoso.
  2. Fazer das refeições um momento para a integração social: fazer a alimentação acompanhado torna ela mais prazerosa, favorecendo o apetite (10).
  3.  Perceba se a pessoa tem dificuldade em pegar os utensílios e os levar até a boca. Algumas intervenções podem auxiliar:
    • Prefira canecas ou xícaras com alças maiores, que permitem o encaixe dos dedos, em substituição aos copos;
    • Preferencialmente, escolha um prato fundo, ao invés do prato raso;
    • Talheres com cabos mais grossos podem facilitar o manuseio durante a refeição.
  4. Em caso de declínio da visão ou da capacidade mental ou limitação na coordenação motora:
    •  Ajude na identificação dos utensílios, favorecendo a autonomia do idoso quando há contraste entre a cor dos talheres, do prato e da toalha de mesa (preferencialmente de uma única cor e sem estampas ou bordados).

Compras para a casa 

Evite ir aos mercados e feiras se você é idoso!

No caso das compras, o ideal é que algum familiar ou pessoa próxima do idoso as realize, mantendo os cuidados com a higiene no momento de retornar das compras e de entregá-las.  Entretanto, caso não haja essa possibilidade, ir aos mercados em horários de menor circulação de pessoas e planejar as compras de modo a minimizar as saídas para os supermercados é uma forma de diminuir os riscos de exposição a ambientes de potencial contaminação. 

Outros cuidados importantes com a alimentação:

  1. Se o idoso apresentar limitações para mastigar e engolir:
    • O tamanho do alimento, sua consistência e textura devem estar adaptados ao grau de limitação. Nesse sentido, picar em pequenos pedaços, moer, amassar ou ralar são formas que podem facilitar o consumo e devem ser consideradas no planejamento da refeição.
  2. Evite deixar o sal ou o açúcar sobre a mesa: mudanças na percepção do sabor são decorrentes do envelhecimento, podendo levar a pessoa idosa a adicionar mais açúcar, sal e outros condimentos aos alimentos:
    • Utilizar cheiro-verde, cebola, alho ou ervas é uma estratégia que pode reduzir o sal na comida, entretanto, acostumar-se com uma comida com uma menor quantidade de sal ou açúcar requer um certo tempo até que se habitue com a mudança.
  3. É comum observar entre idosos a diminuição da percepção da sede, por isso é importante incentivar e checar como está o consumo de água 
    • Não havendo contraindicação médica, a ingestão de água deve ser entre dois litros e dois litros e meio diários;
    • Alguns idosos não gostam de beber água pura, uma alternativa é o preparo de água saborizada/aromatizada. É mais segura, especialmente para os diabéticos, do que a ingestão de sucos* (mesmo os que não levam açúcar).
    • Prefira consumir as frutas in natura do que em sucos, pois os sucos possuem normalmente mais carboidratos e menos fibras que a fruta consumida sem processamentos (11).

Referências:

(1) WANNMACHER, L. Como manejar a insônia em idosos: riscos e benefícios. In: Uso racional de medicamentos: temas selecionados. Brasília, vol. 4, n. 5, 2007. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=511-como-manejar-a-insonia-em-idosos-v-4-n-5-2006-1&category_slug=uso-racional-medicamentos-685&Itemid=965.

(2) Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. Edição. São Paulo: Guanabara Koogan, 2011

(3) FORLENZA, Vicente Orestes. Neuropsiquiatria Geriátrica – 2ª Edição. Atheneu, 2014.

(4) Fundamentos de Geriatria Clínica – 7ª Edição. São Paulo, Saraiva, 2015.

(5) Cartilha 60+. Hospital Sírio-Libanês. Disponível em: https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospital/Documents/cartilha-60-mais.pdf.

(6) Sono e envelhecimento. Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS). Disponível em: https://www.absono.com.br/_ANTIGO_WP_abms/sono-e-envelhecimento.html.

GEIB, L. T. C. et al. Sono e envelhecimento. Rev. de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Porto Alegre,  vol. 25, n. 3, dec. 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082003000300007.

(7) ARAÚJO, C. L. de O. Qualidade do sono e idosos residentes em instituição de longa permanência. 2008. 147f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Campinas, Campinas.

(8) Cuidados com a pele da pessoa idosa. Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Disponível em: https://www.sbd.org.br/mm/cms/2019/03/18/cartilha2sbd-cuidados-da-pessoa-idosasite.pdf.

(9) Geriatria: guia prático.1ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara. Koogan, 2016.

(10 Alimentação saudável para a pessoa idosa: um manual para profissionais da saúde. Ministério da Saúde. Editora MS, Brasília, ed. 1, 2009. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_saudavel_idosa_profissionais_saude.pdf.

(11) Suco de frutas, pode? Diabetes 2: descubra, cuide, viva. Disponível em: https://saude.novartis.com.br/diabetes-tipo2/suco-de-frutas/#.

 

 

Crédito da imagem:  Royalty Free illustration em Rawpixel.

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Categoria: Idosos e COVID-19

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Autor

  • Uliana Pereira da Silva Lisboa

    Aluna da graduação em Medicina na Universidade Federal de São Carlos; Diretora de comunicação da Liga de Química Medicinal e Farmacologia Clínica da Universidade Federal de São Carlos - Gestão 2020

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