O Curso Introdução à Saúde dos Povos Indígenas é uma atividade curricular de integração de ensino, pesquisa e extensão (ACIEPE) focada na saúde indígena. A ACIEPE foi desenvolvida pelo Programa de Extensão em Saúde dos Povos Indígenas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Seu objetivo é estabelecer um espaço compartilhado entre indígenas e não indígenas, estudantes e profissionais de saúde, para discutir as especificidades da saúde dos povos indígenas. 

Curso construído com muitas mãos

A proposta foi construída em parceria com o PET Indígena Ações em Saúde – UFSCar, o Grupo de Pesquisa Educação Popular em Saúde UFSCar (GPEPS), a Diretoria da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), o Grupo de Trabalho em Saúde Indígena da SBMFC, o Centro de Cultura Indígena UFSCar (CCI), o Projeto Haku-Katu da Faculdade de Odontologia da USP e a Casa Lua Cheia. Tem também o apoio da Pró-Reitoria de Extensão – Proex UFSCar. 

A atividade conta com a participação de um grupo de indígenas e não indígenas, estudantes e profissionais de saúde que atuam na saúde indígena e lideranças indígenas. São mais de 15 estados federativos representados, com cerca de 20 diferentes povos originários.

Destaca-se, portanto, a importância dessa grande diversidade no grupo. A ACIEPE possibilita uma maior visibilidade à temática da saúde dos povos indígenas, visto que é um assunto pouco abordado pelas mídias e meios de comunicação em geral, bem como nos cursos de formação na área da saúde. Assim, a atividade busca ampliar a discussão desses conhecimentos, por meio de encontros interculturais e com um forte protagonismo indígena. 

Círculos de Cultura são inspiração da proposta

A metodologia utilizada tem como inspiração a experiência do grupo coordenador com o desenvolvimento das Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas, um projeto de extensão desenvolvido desde 2016. Os encontros são baseados nos círculos de cultura de Paulo Freire, promovendo uma relação horizontal entre educadores e educandos, valorizando a tradição oral e legitimando a diversidade cultural e de saberes. 

Tal concepção se dá com base em três princípios metodológicos: o respeito, a autonomia e a dialogicidade. Foram utilizadas estratégias e instrumentos de diversas metodologias ativas de ensino-aprendizagem, com inspirações na problematização, na espiral construtivista e na aprendizagem baseada em problemas. 

A ACIEPE tem duração total de 60h, realizadas totalmente no formato online, com encontros síncronos e atividades assíncronas. O curso é dividido em 4 módulos: Identidade Indígena; Cuidado em Saúde Indígena; Direitos Indígenas e Saúde; Educação e Saúde Indígena. A seguir, encontra-se o detalhamento de cada módulo.

  • Identidade Indígena

Neste módulo serão desenvolvidos aspectos relacionados à constituição identitária do indígena, aproximando olhares de indígenas e não indígenas com o intuito de valorizar as narrativas e trajetórias dos participantes. As diversidades, diferenças e desigualdades farão parte deste diálogo, apresentando os desafios do compartilhamento de perspectivas e estranhamentos e o próprio processo de reconhecer a si e ao outro. Nesse contexto, será possível discutir sobre os processos históricos no encontro de indígenas e não indígenas no Brasil e os preconceitos contra os povos originários. Além disso, serão abordados aspectos relacionados aos indígenas na atualidade, considerando o cotidiano daqueles que vivem nas aldeias e na cidade, de modo a superar a compreensão limitada que é apresentada nos livros didáticos, em sua grande maioria.

  • Cuidado em Saúde Indígena

O segundo módulo está centrado no cuidado em saúde indígena, de forma a direcionar as discussões em diferentes dimensões, mas com foco significativo nas relações entre saúde e cultura. Serão abordados os conceitos de saúde, doença e processos de cura. Além disso, será abordada a presença (ou ausência) de cuidados tradicionais em saúde na atualidade. Assim, o encontro entre a biomedicina e os sistemas de cura indígenas será discutido para que sejam levantados de forma coletiva os desafios para a elaboração de um cuidado partilhado entre diferentes visões de mundo. Nesse âmbito, será valorizado o debate sobre os valores e as diferenças entre a experiência de saúde e de doença para cada participante. Será explorado, também, o conceito de competência cultural, compreendida como um conjunto de habilidades que os profissionais de saúde devem ter para trabalhar com grupos populacionais que possuem costumes e tradições diferentes das suas. Essa discussão tem como objetivo potencializar a atuação no campo da saúde, a comunicação mais efetiva e qualificada, com respeito às diferenças e, ainda, ampliar o diálogo sobre políticas, valores, comportamentos e atitudes em um sistema ou entre profissionais que possibilite o trabalho efetivamente transcultural. 

  • Direitos Indígenas e Saúde

No terceiro módulo, serão abordados os direitos indígenas, tanto relacionados à saúde, como aqueles para as áreas correlatas, já que para os povos indígenas, a saúde é compreendida de forma mais ampla, não restrita à saúde do corpo, mas integrada ao planeta. Assim, o direito à terra e à educação e a manutenção de sua diversidade cultural estão intimamente relacionados à promoção da saúde. Com foco na discussão dos direitos dos povos indígenas no Brasil, a abordagem será iniciada pela trajetória de criação das políticas de saúde indígena, antes e depois da Constituição de 1988, no sentido de entender os significados de uma atenção diferenciada a partir do subsistema. Adicionalmente, poderá ser ampliada a discussão sobre outros povos originários ameríndios, principalmente no tocante à superação da tutela e ao fortalecimento da pessoa indígena como cidadã.

  • Educação e Saúde Indígena 

Neste último módulo serão valorizados a competência cultural e o diálogo nas relações, com foco na educação em saúde no contexto indígena. Para tanto, será abordada a construção sociocultural dos processos de saúde e doença, de modo a relacioná-los à comunidade, suas histórias e crenças, superando a visão biomédica e etnocêntrica hegemônica na formação e atuação de profissionais de saúde. Desse modo, será proposta uma discussão no sentido de buscar aproximações com a educação popular em saúde em meio a relações dialógicas entre pessoas de diferentes saberes e processos históricos, ampliando a discussão sobre a tolerância, o respeito e as construções interculturais. Portanto, no reconhecimento de que se aprende e se ensina nos diversos contextos da saúde indígena. 

O que vem por aí?

Como parte das atividades da ACIEPE, serão produzidos materiais para divulgação na plataforma InformaSUS. Esta atividade já fez parte da primeira edição da ACIEPE. Foram divulgados alguns produtos que os integrantes produziram durante a atividade de extensão. Enquanto esperamos os próximos materiais, que tal conferir o que foi produzido na primeira edição do curso? Abaixo, apresentamos brevemente cada uma das produções. Para a leitura completa, basta clicar no link. 

No texto de apresentação da 1ª edição da ACIEPE, podemos encontrar as principais temáticas discutidas, tais como: espaços compartilhados, a invisibilidade e o protagonismo indígena, além de questões sobre identidade, visibilidade, coletividade, cultura e cuidado. Vale a pena conferir o texto sobre DIVERSIDADE E CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA NA ACIEPE

Foi produzido também um vídeo com discussões muito importantes, que merecem maior evidência, como a questão do preconceito contra indígenas e os estereótipos que a sociedade impõe sobre as pessoas: O PRECONCEITO CONTRA INDÍGENAS.

Além dos materiais elaborados com o foco na comunicação social, foi produzido o CADERNO DO CURSO, no qual é possível encontrar informações sobre a primeira edição do curso, bem como os conteúdos abordando a identidade indígena, os cuidados em saúde indígena, os direitos e a educação.

Muito relevante a discussão proposta pela ACIEPE, não é mesmo? Se você gostou, fique atento que logo teremos mais novidades para compartilhar! 

 

Autoria:

Adriano Rodrigues Luz

Josineide Jacilda da Silva

Sileia Massa Alves

Revisão:

Larissa Campagna Martini

Willian Fernandes Luna

Referências:

Caderno do Curso Introdução à Saúde dos Povos Indígenas 2021. UFSCar. 2022. Disponível em https://www.sibi.ufscar.br/arquivos/caderno-do-curso-introducao-a-saude-dos-povos-indigenas.pdf 

Identidade, Cuidado e Direitos: a Experiência das Rodas de Conversa sobre a Saúde dos Povos Indígenas. Autores: Willian Fernandes Luna, Cecília Malvezzi, Karla Caroline Teixeira, Dayane Teixeira Almeida, Vandicley Pereira Bezerra. Rev. bras. educ. med. 44 (02). 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v44.2-20190309 

 

Acesse também:

O preconceito contra indígenas. Publicação da ACIEPE 2021.

Diversidade e Construção Compartilhada na ACIEPE: Introdução à Saúde dos Povos Indígenas da UFSCar. Informações sobre a ACIEPE 2021.

 

Apoio:

 

Autor

  • Adriano Rodrigues Luz

    Licenciado em Física pela UFPR em 2018, em que participou de Iniciação Científica e projetos de extensão como o PIBID Física e o Física Brincando e Aprendendo (FiBrA). Atualmente, cursa medicina na UFSCar, com interesse em educação em saúde, saúde mental, saúde afro-indígena, psicologia e psiquiatria.

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